terça-feira, 12 de setembro de 2017

Capitão-mor João Gomes do Rego Barra


Capitão-mor João Gomes do Rego Barra

Reginaldo Miranda (*)

Um dos principais personagens nos primórdios da fundação da Parnaíba, foi o português João Gomes do Rego Barra, ou Rego Barros, conforme também se verifica. Na verdade, adotou esse último apelido por modismo, talvez por fixar morada na barra do Parnaíba.

No entanto, dois equívocos se vêm repetindo com relação a esse pioneiro, o primeiro tantas vezes repetido, é de que ele foi enviado para o lugar por ordem do governador de Pernambuco, para guarnecer o litoral de ataques inimigos. Porém, esse fato não é verdadeiro porque desde março de 1700, que o Piauí havia sido anexado ao governo do Maranhão, fugindo assim à alçada pernambucana.

Na verdade, João Gomes do Rego Barra se radicou no litoral piauiense defendendo interesses privados, como procurador do abastado fazendeiro e coronel, Pedro Barbosa Leal, morador na cidade da Bahia e sócio da Casa da Torre em alguns empreendimentos. Ali chegando em 1711, sob ordens daquele, funda fazendas, pequena vila sob o nome de Nossa Senhora de Monserrate, depois também conhecida por Vila da Parnaíba ou Vila Velha do João Gomes, onde instala as primeiras oficinas de couro e charque, assim como explora o ramo de salinas.

Em 1711, o abastado fazendeiro Pedro Barbosa Leal, solicita à Cúria de São Luís do Maranhão, licença para construir uma capela sob a invocação de Nossa Senhora de Monserrate, padroeira do lugar e santa de sua devoção, obtendo resposta em 11 de julho do mesmo ano.

Esse foi de fato um ano importante para a fundação do lugar, porque em 16 de dezembro (1711), João Gomes do Rego Barros vai ser nomeado para exercer por três anos a patente de capitão-mor da assim chamada vila de Nossa Senhora de Monserrate, na foz do Parnaíba. Essa nomeação foi de suma importância para a conservação das fazendas e consolidação da nascente povoação, porque estava tendo início o levante geral dos indígenas que sacudiria os sertões do Piauí e Maranhão.

Outro equívoco que se vem repetindo com relação a esse colonizador lusitano, é de que ele fosse natural de Pernambuco e pertencente à ilustrada família Rego Barros. Não é verdade. João Gomes do Rego Barra nasceu em 1676, na freguesia de São Lourenço de Sande, termo de Guimarães, arcebispado de Braga, no norte de Portugal, em cuja igreja matriz fora batizado em 12 de abril daquele ano, pelo vigário Antônio Pereira (o documento consta à fl 23, do respectivo livro de batizados relativo àquele ano). Foram seus pais Francisco Dias de Carvalho (adotou esse apelido por ser do lugar do Carvalho) e sua mulher Maria Francisca do Rego (a exemplo do esposo, adotou esse apelido por ser do lugar do Rego), esta filha do clérigo Jerônimo Rodrigues, abade de Mezarefes; e padrinhos Antônio Rodrigues de Carvalho, da freguesia de Mezarefes e Páscoa Francisca (sua tia materna), mulher de outro João Gomes, daquela mesma freguesia (PT-TT-TSO-CG-A-008-001-3396)

Ainda menino deixou São Lourenço de Sande e foi morar em Mezarefes, na companhia do avô materno, abade Jerônimo Rodrigues, onde viveu a vida escolar. Dali rumou para Lisboa e, em seguida, para a cidade da Bahia, onde chegou por volta de 1696, aos vinte anos de idade, para viver em companhia de dois clérigos: o irmão Francisco Gomes, que ministrava aulas de Gramática e o primo Domingos Gomes, ambos jesuítas, este último foi administrador das fazendas da Companhia de Jesus, no Piauí, deixando importante relatório denominado Notícias do Piauhy, que copiei, interpretei e publiquei em forma de livro, juntamente com outros escritos, em 2011.

Foi na cidade da Bahia que conheceu Pedro Barbosa Leal, com ele firmando contrato para vir fundar feitorias e administrar seus bens no delta parnaibano, onde chegou no ano de 1711.

Durante a levante geral dos índios (1712 – 1717), lutou ao lado do mestre-de-campo Antônio da Cunha Souto Maior, combatendo os indígenas no norte do Estado. Diz ele em petição, que juntamente com aquele, assassinado pelos indígenas em 1713, resistiu em três combates seguidos, os índios também com armas de fogo e ele tendo perdido nessa guerra mais de cinco mil cruzados. Nessas lutas meteu ele de paz o aranhis, desinfestando assim grande área do delta.

Em face dessa conquista em 14 de julho de 1725, recebeu do governador do Maranhão sesmaria na área que conquistou ao tapuia levantado, com duas léguas de comprido e duas de largo, em uma ilha que está entre o rio Igarassu e a barra chamada vulgarmente da Parnaíba, onde criava mais de trezentos animais, cuja área foi confirmada por el rei; pediu também sesmaria no Riacho Pirangi, que nasce na Serra da Ibiapaba e entra no Parnaíba, que lhe fora dada verbalmente por Pedro Barbosa Leal, onde ele suplicante criava duas mil cabeças de gado vacum há quatorze anos, o que reporta ao ano de 1711, não obtendo a devida confirmação. No requerimento disse ele que tinha cinco filhas solteiras e apenas um filho varão, encontrando-se sem um palmo de terras com título seguro (AHU. ACL. Maranhão. Cx. 15. Doc. 1499).

O capitão-mor João Gomes do Rego Barra, convolou núpcias em 1711 ou 1712, em São Luís do Maranhão, com Ana Castelo Branco de Mesquita, natural de Lisboa, prematuramente falecida, filha de Dom Francisco de Castelo Branco, militar português, irmão do Conde de Pombeiro, e de sua primeira esposa Maria Eugênia de Mesquita, falecida em naufrágio nas costas do Maranhão no ano de 1700. Filhos: Maria Eugênia de Mesquita Castelo Branco e João do Rego Castelo Branco.  Convolou segundas núpcias com a cunhada Maria do Monserrate Castelo Branco, irmã por inteiro da primeira e inditosa consorte. Filhas: Francisca do Monserrate Castelo Branco, Ana do Monserrate Castelo Branco, Florência do Monserrate Castelo Branco e uma quinta filha cujo nome não sabemos informar.

Com essas informações por ele declaradas em petição requerendo sesmarias, de que tinha apenas um filho varão, fica evidente que Lourenço dos Passos e Rosendo Lopes Castelo Branco não são seus filhos, e sim netos, provavelmente filhos de sua filha Florência do Monserrate Castelo Branco, que foi casada com José Lopes da Cruz, que situou-se na barra do rio Pirangi, por ele pedido em sesmaria, onde floresceu a fazenda, hoje cidade de Buriti dos Lopes.

Faleceu depois de 1725, deixando uma família extensa, ilustrada, rico cabedal e larga folha de serviços prestados ao Estado.
   

(*) REGINALDO MIRANDA, é membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense e conselheiro do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI.

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