sexta-feira, 18 de agosto de 2017

PREFÁCIO AO LIVRO MATRIZ DE SÃO BERNARDO: DE CAPELA A SANTUÁRIO

Flagrante da ordenação diaconal de Felipe Costa Silva


PREFÁCIO AO LIVRO MATRIZ DE SÃO BERNARDO: DE CAPELA A SANTUÁRIO

Elmar Carvalho

Recebi ontem, pelos Correios, enviado de Quixadá, o livro Matriz de São Bernardo: de capela a santuário, de Felipe Costa Silva, que foi ordenado diácono no dia 12, após ter se licenciado em Filosofia e se bacharelado em Teologia, passando a fazer parte do clero da Diocese de Quixadá. Em sua ordenação estiveram presentes Monsenhor Maurício Laurent, Pe. Ribamar Xavier e Pe. Joel Teixeira, além de seus familiares e amigos, em cuja oportunidade o livro foi lançado. O lançamento em São Bernardo (MA) está previsto para o próximo dia 09 de setembro. Tive a honra de lhe fazer o prefácio, cujo texto segue abaixo. O livro poderá ser adquirido através do blog https://freguesiasb.blogspot.com.br/

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            Quando o teólogo e historiador Felipe Costa ainda estava no início de seu trabalho de pesquisa para concepção do vertente livro, fez contato comigo, através de e-mail, indagando-me sobre como poderia adquirir o meu Bernardo de Carvalho, o fundador de Bitorocara. Bernardo também é considerado o fundador, ou pelo menos um dos fundadores, de sua cidade natal. Deve ter tomado conhecimento da existência do opúsculo por meio da internet. Pedi seu endereço e lhe enviei um exemplar.

Tendo, sem dúvida, observado que ele tinha como principal fonte bibliográfica a notável obra historiográfica Bernardo de Carvalho, da autoria do insigne historiador, professor e sacerdote Cláudio Melo, perguntou-me sobre onde encontrá-lo. Esclareci-lhe que o livro tivera apenas uma modesta e acanhada edição, e, portanto, já se encontrava esgotado há várias décadas. Providenciei uma fotocópia de meu exemplar, que tinha uma honrosa dedicatória do Mestre e conterrâneo, e lhe remeti pela ECT.

Após a Universidade Federal do Piauí, para gáudio meu, publicar a segunda edição de meu referido livro (revisto, aumentado e melhorado), com novos e mais robustos argumentos e informações, inclusive transcrições de documentos e inclusão de dois novos capítulos, tratei de lhe encaminhar um volume, pois sabia e sei que seria uma semente caindo em terreno fértil, o que restou provado com a elaboração desta valiosa obra, fundamentada em extensa bibliografia e sólida documentação.

Na recente edição de meu trabalho, penso ter demonstrado, de forma cabal e peremptória, que o saudoso padre Cláudio Melo é quem tinha razão, quando afirmou, de forma corajosa, que Bitorocara, fazenda de Bernardo de Carvalho, ficava mesmo onde hoje se ergue a cidade de Campo Maior, cuja primeira igreja ele erigiu a pedido de seu parente, padre Tomé de Carvalho, primeiro vigário da Freguesia de Nossa Senhora da Vitória e importante figura histórica do Piauí.

Não faz muito tempo, o seminarista Felipe Costa criou o blog Freguesia de São Bernardo do Parnaíba, designação antiga do território de seu município. Nesse sítio virtual vem publicando importantes artigos e ensaios historiográficos, além de curiosidades, pequenos textos de conteúdo de edificação moral e pequenos audiovisuais, entre os quais um sobre o hino do padroeiro São Bernardo de Claraval e outros sobre os festejos e eventos religiosos da velha paróquia.

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Há poucos dias fui surpreendido com nova façanha dele, que verifiquei ser ainda bem jovem, o que mais ainda nos faz admirar haver feito trabalho de tão elevada importância. Concluídas suas pesquisas, escreveu esta notável história da Paróquia de São Bernardo, desde os seus primórdios, antes ainda de ser extensa Freguesia, até o seu estágio atual, em que a igreja matriz se tornou Santuário.

Não se limitou a conceber uma simples obra de divulgação, coligindo apenas as informações que já se encontram nos livros e em artigos avulsos, o que já seria um feito meritório, digno de efusivos encômios. Foi além, ao colher novos dados, através de entrevistas e de recursos da história oral, bem como do acesso a vários documentos.

Trouxe condimentos agradáveis e pitorescos, quando tratou da origem “legendária da matriz de São Bernardo”, mostrando diferentes versões, cotejando-as e as interpretando à luz da história documentada. Discorreu sobre as suas divergências e verossimilhanças, separando o que seria pura lenda do que teria um fundo de verdade histórica. Portanto, fez um contraponto entre a origem mítica e a real da primitiva igreja.

Ao traçar os albores da Paróquia, e ao lhe delinear o contexto histórico, relatou muito da história do Maranhão e mesmo do Piauí, pela estreita vinculação histórica e religiosa entre essas duas unidades federativas. Sem maniqueísmos e anacronismos, sempre buscando a imparcialidade e a verdade que deve nortear uma legítima História, narrou os embates e vicissitudes, mas também os heroísmos da época da Conquista, em que houve excesso de ambas as partes, vale dizer, de brancos e índios.

Entre os grandes pioneiros, avulta a figura do mestre de campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, no entendimento do padre Cláudio Melo a mais importante personalidade histórica do Piauí colonial, certamente uma das grandes figuras da história de São Bernardo e do Maranhão, e que sempre auxiliou a Igreja Católica, em suas atividades, missões e desobrigas, inclusive na ereção de templos.

Neste importante trabalho é contada a história do arraial de São Bernardo, da criação da Freguesia, da luta pela construção, conservação e reconstrução da Matriz. Teve ensejo de desfazer dúvidas e equívocos, alicerçado em documentos. Quando eventualmente teve de fazer interpretações, o fez com base em sólida verossimilhança e com o desenvolvimento de raciocínio pautado na lógica, sem descurar das contribuições da história oral, que também tem a sua relevância, sobretudo quando em cotejo com outras fontes.

Além de ter discorrido sobre o território inicial da Freguesia, as suas vinculações e abrangência, dissertou sobre as divisões ou desmembramentos, inclusive sobre paróquias e capelas contíguas ou que integraram a sua circunscrição territorial.

Capítulo especial mereceu o que o autor denominou como sendo “os áureos tempos da matriz”. Nesse segmento falou de fiéis dedicados, que contribuíram com seu trabalho e até mesmo recurso financeiro para que a religiosidade dos paroquianos não esmorecesse, mormente nos períodos de vacância. Foram louvados com a merecida ênfase as figuras luminosas dos padres Gentil de Moura Viana, padre Pereira (José Alexandre da Silveira Pereira), o primeiro sacerdote nascido no município de São Bernardo, e o legendário cônego Nestor de Carvalho Cunha, que dirigiu a paróquia durante 45 anos; e desenvolveu, além de suas funções sacerdotais, atividades de fomento à cultura. Foi assassinado em pleno exercício de função administrativa inerente a seu cargo de vigário.

Como se não fosse bastante tudo o que já expusemos, a obra discorre sobre novas abordagens evangélicas, trabalho de catequização, comunidades eclesiais, renovações pastorais, congregações pias, etc. Abordou os novos rumos da Paróquia, sobretudo a contribuição dada pelo monsenhor Maurício Laurent.

Dispõe de glossário e nos apêndices apresenta uma cronologia dos principais fatos relativos à paróquia e ao município de São Bernardo, relação de párocos e vigários, longa e importante entrevista com o monsenhor Maurício Laurent, e, nos anexos, fez a transcrição de documentos basilares da Paróquia de São Bernardo de Claraval.

Por tudo o que dissemos, mas também pelo que não pudemos ou não soubemos dizer, é um livro de capital importância para a história da paróquia e do município de São Bernardo, mas também relevante para a historiografia piauiense e maranhense.    

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