NÃO DEIXE O AMOR PASSAR
Valério Chaves – Des. inativo do TJPI
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
(
Fernando Pessoa)
A língua
portuguesa como expressão cultural, é induvidosamente um dos monumentos
literários dos mais belos da Humanidade e que mais de perto sonda o mais terno
dos sentimentos humanos: o Amor.
No dia dos
namorados (12 de junho) muitas especulações e declarações serão feitas sobre o
amor, porém nenhuma delas poderá dizer o que esse sentimento essencialmente
representa na vida de cada um de nós.
Cada pessoa,
cada poeta e cada romancista tem uma definição própria e descrevem sugerindo
seu entendimento conforme lhe parece mais adequado.
Carlos Drummond
de Andrade, por exemplo, em seu poema “Os ombros suportam o mundo” (do livro
“Sentimento do mundo”, 1940), mostra sua forma peculiar de ver o mundo e o amor
quando escreveu ”que não seria o cantor de uma mulher” pois não cantaria amores
que não tinha e que, quando teve, nunca os celebrou.
O amor
drummondiano, como se pode perceber, é trágico e insatisfeito, não tem rumo
certo ou ponto de chegada, mas é inevitável e ambivalente.
Contrariamente
ao que escreveu em o “Sentimento do mundo” Drummond no poema “Não deixe o amor
passar”, com sua incrível sensibilidade certamente dirigindo-se aos namorados,
refere-se a esse sentimento como sendo um presente mandado por Deus, dizendo:
“Se o toque
dos lábios forem intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem
d'água neste momento, perceba: existe algo
mágico entre vocês. Se o primeiro e último pensamento do seu dia for esta pessoa, se a
vontade de ficar juntos chega a despertar o coração, agradeça: Deus te mandou
um presente: O Amor. Por isso, preste atenção nos sinais, não deixe que as
loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O Amor”.
Sigmund Freud (1856-1939), por sua vez, em suas
contribuições à psicanálise do amor diz em seu texto que é fonte de alegria,
mas é também premissa de nossos sofrimentos: quanto mais se ama mais se é
feliz, mas quanto mais se ama mais se sofre.
Ainda de Drummond no poema” Amor Natural”, ele termina
com estes versos eróticos:
“Quantas
vezes morremos um no outro
No úmido subterrâneo da vagina
Nesse
amor mais suave do que o sono:
A
pausa dos sentidos, satisfeita,
Então
a paz se instaura
A paz
dos Deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
Vestidas de suor, agradecendo
O
que a um deus acrescenta o amor terrestre”.
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