sexta-feira, 18 de novembro de 2016

SOBRE LEITURA


SOBRE LEITURA

Cunha e Silva Filho

Este texto, vou avisando-o, leitor, não visa a dar lições teóricas sobre o assunto nem aqui, no espaço de um crônica, seria conveniente cuidar de um tema tão vasto e variado quanto falar de leitura.

É apenas uma conversa livre, descontraída, sem jargão acadêmico. Leitura simplesmente. Leitura de um texto, de preferência literário, ficcional, poético, dramatúrgicos, memorialísticos, os best-sellers, os de ficção científica, os de humor, quadrinhos, gibis, auto-ajuda, revistas sobre televisão, sobre fofocas da vida de artistas (celebridades), os policiais, ensaístico, críticos, mesmo um texto de jornal, revista, um artigo, um editorial, uma reportagem, uma entrevista escrita, em suma, um texto que seja bem escrito, criativo, o que não quer dizer que seja politicamente correto, normativo, vernacular.

Tampouco do assunto estou excluindo os textos políticos,nacionais, internacionais, regionais nem os históricos, sociológicos, artísticos, filosóficos, científicos, geográficos, antropológicos, de religiões, os educacionais, os didáticos, os de referências, os gramaticais, os linguísticos e suas variações múltiplas e complicadas. 

Com tão amplo espectro de opções textuais, para todos os gostos e tipos de leitores, torna-se árdua a tarefa de saber como iniciar uma discussão que pode ter um cunho frívolo ou pode até ajudar alguém que precise de uma orientação sobre o que ler e o que escrever. 

Se não cometo um deslize informativo, acho que livros de orientação sobre leituras têm muita voga nos EUA. De lá talvez tenham vindo as influências desse tipo de livro. Eu mesmo li alguns de origem americana. Os autores são muitos meticulosos neste aspecto. Eu ainda até escrevi um capítulo de um livro (Breve introdução ao curso de letras: uma orientação (Quártica, 2009) meu sobre o curso de letras em que dou meus palpites e ainda remeto o leitor a cobras desta natureza. Será, me pergunto algo cético, que vale a pena alguém orientar leitores ou estudantes ou o público em geral com algumas dicas propedêuticas sobre assunto de leitura? O último livro discutindo a questão-chave da leitura de que tive notícia foi Como ler livros, de Mortmer J. Adler e Charles Van Doren ( São Paulo: É realização, 2010, 430 p. Trad. de Edward Horst Wolff e Pedro Sette-Câmara).

Não sei, tenho cá minhas dúvidas. Vai ver que nem o autor que escreveu livros deste tipo seguiu os passos dele mesmo ou de outros autores lidos por ele. Tudo pode. Há um distância grande entre o planejado e o realizado na prática. No entanto, é indispensável elaborarem-se projetos, planos, programas, pois tudo isso envolve metodologias, as quais são de suma importância ao o desenvolvimento do conhecimento dos saber humano. 

Em conversa com gente de culturas diversas e de níveis de conhecimento do mais baixo ao mais alto tenho ouvido coisas assim:”Ah, compro um jornal, leio alguns textos que me chamaram a atenção e os outros deixo de lado. Nada achei de tão atraente que me fizesse ler a matéria.” Ao final, praticamente esse leitor, não leu o jornal, cujo destino vai servir para auxiliar no recolhimento do lixo, cobrir a área do tanque para proteger o piso na limpeza da cozinha.

Um outro amigo me diz que, hoje em dia, ninguém quase ler mais nada de importante. Prefere fica mexendo no celular ou brincando com algum jogo eletrônico ou lendo ou até preferindo ler gibis a ler um importante autor, segundo anos atrás me falou um conhecido livreiro do Rio de Janeiro. 

Certa vez, um professor de literatura brasileira desabafou com os seus alunos de doutorado sobre a má vontade de seus alunos de graduação que teriam que ler um livro bem volumoso. “Professor, qual é! Por que não recomenda um livro com menos página? O mestre, um conhecido ensaísta, lhes respondeu amuado: “Logo vocês, estudantes de letras, vêm me dizer que não gostam de ler, têm medo de livros volumosos!!! O mundo está perdido!” - sentenciou ele.

Tenho uma pergunta de alcance geral: será que esta realidade sobre índices de leitura se restringe somente aos leitores comuns, a alguns estudantes ? Não aconteceria com alguns professores de língua portuguesa ou mesmo de literatura? Não acredito que minhas indagações não tenham procedência. Já ouvi histórias em torno desta situação de penúria de leituras da parte de alguns docentes. 

Eu até não os reprovo tanto diante de certas conjunturas de política educacional em que o professor brasileiro se encontrou no passado e no presente. Pressionado por vários fatores negativos, o professor se vê impedido de melhorar o seu cabedal de leituras por falta de tempo, por se sentir desanimado num país em que os governantes pouca atenção dispensam ao magistério, ou melhor, à educação, ao ensino, à aprendizagem, diferente de países como a China, o Japão e mesmo os Estados Unidos e outra nações bem adiantadas. 

Eu próprio soube por minha esposa que, anos atrás, indo ela à Secretaria Municipal do Rio de Janeiro levar alguns documentos meus a fim de ser beneficiado por alguma vantagem salarial (curriculum vitae, certificados de cursos, presença em seminários, congressos etc) e conversando com uma professora, desta ouviu esta pérola: “Mas, por que o seu marido faz tantos cursos? Não servem pra nada.” Mal sabia ela que aqueles cursos, aqueles certificados, aqueles seminários me seriam de muito valia nos anos seguintes. Com uma mentalidade tacanha daquela professora jamais poderá um país atingir um elevado nível de ensino e de educação. 

Pelo andar da carruagem, o leitor pode perceber que a leitura é um instrumento formidável de progresso intelectual e de realização profissional. Neste sentido, deixo implícito o quanto a leitura serve ao estudioso e só com muita leitura é possível sair da mediocridade. Não tenho pejo de afirmar que sou mais um leitor intensivo do que compulsivo. Admiro os compulsivos, mas cada livro que li, o fiz com critério, profundidade e paixão. Francamente, lhe declaro que todos nós temos gaps de leituras que não fizemos no passado, na mocidade. Entretanto, na medida do possível, aos poucos vamos completando as nossas deficiências e lendo aqueles autores que, por um circunstância ou outra, deixamos de ler nas mais férteis fases de nossas vidas: a juventude, a mocidade.

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