sábado, 24 de setembro de 2016

O rato comeu. Cadê o rato?


O rato comeu. Cadê o rato?

José Maria Vasconcelos
cronista, josemaria001@hotmail.com

         Ultimamente, o mundo político vive de cantarolar parlendas com a opinião pública, brincando de esconde-esconde a roubalheira. Lembra-se das folclóricas historinhas infantis repassadas pelas tias e educadoras? Eram parlendas. Entre dezenas, escolhi a dos ladrõezinhos dissimulados: “Cadê o queijo que deixei aqui? / O rato comeu. / Cadê o rato? / O gato comeu...” E assim os malandros tentam sabotar “a verdade conhecida como tal”, um pecado contra o Espírito Santo.

         A mais recente malandragem de esconde-esconde ocorreu no Congresso: Projeto de Anistia para Caixa Dois, que livraria a cúpula do Poder sob a mira da Lava Jato.

Ninguém viu o presidente do Congresso no comando da sessão. Escafedeu-se. Seu vice o substituiu. O Projeto entrou em pauta pelos fundos da falta de vergonha e seria aprovado em final de sessão (noturna!). Até o momento, ainda não se sabe o autor da marmelada! Só se sabe que fora apresentada por líderes dos partidos, gatos e ratos que se misturam no cinismo do esconderijo, com vergonha de serem identificados. O autor, mesmo, seja descoberto nos próximos dias.

Graças aos parlamentares do bem, que ainda resistem às tentações do queijo roubado, e se encontravam na sessão, berraram e conseguiram retirar o despacho maligno da pauta. E há, ainda, políticos e gestores do bem? Há, sim, o atual governador do Rio Grande do Sul, que cortou dez secretarias de governo, convocou prestadoras de serviços para redução das cobranças, que dispensa viagens aéreas, que botou na rua centenas de comissionados. Há, sim, o ministro da Saúde, que, em quatro meses, já economizou quase um bilhão de reais tomando as mesmas medidas.

O Projeto de Anistia para Caixa Dois visava anular investigações e processos em andamento, que vão julgar o pagamento de propinas pelas empreiteiras aos políticos. Alguns compõem alto comando dos governos Temer, Lula e Dilma, além do presidente do senado, vários deputados federais, senadores, governadores, diretores de estatais. Embora as investigações da “Operação Lava Jato” tenha avançado para outras organizações criminosas, o nome inicial se consagrou. Só o rombo da Petrobras mostra que em dez anos quatro organizações criminosas de gatunos empanzinaram-se de queijo, reduzindo o valor da estatal, cuja ação beirava os 100 reais, para menos de 10. Explica-se como a ratazana conseguia eleger-se, reeleger-se, levando a tiracolo a esposa, filhos, sobrinhos, gatos, cobras e lagartos. E se fazem de vítima até de um juiz federal.


Neste último domingo, os textos bíblicos tratavam da corrupção com o dinheiro dos pobres, no tempo do profeta Amós. No evangelho, a parábola do gestor desonesto, capaz de falsificar recibos para agradar o patrão. O celebrante da missa, Padre Tony Batista, bateu forte na desavergonhada conduta da classe política. E resumiu: “Eles se fazem de descartáveis, tudo naturalmente, como se não houvesse crime”. Só faltou contar uma parlenda, daquelas do rato e do gato.

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