terça-feira, 28 de junho de 2016

Salgado Maranhão do Piauí


Salgado Maranhão do Piauí

José Maria Vasconcelos
josemaria001@hotmail.com

         Isto mesmo, do Piauí. Salgado no Maranhão, consagrado na Assembleia Legislativa do Piauí com título de cidadão. Adolescente, veio de Caxias, só de cuia e familiares, residir em Teresina, na Piçarra. Nas agruras da pobreza, aprendeu o exercício da poesia, virtudes, espiritualidade e amigos do bem. Admirado e benquisto na minha família.

Da Piçarra, se mandou pro Rio, onde seu talento despertou admiração de celebridades das letras e músicas. Cantores, como Zizi Possi (CAMINHO DO SOL, linda de morrer) gravam com letras de Salgado, generoso retorno financeiro. O poeta não se desgarra do torrão, conectado aos eventos e amigos locais. Hoje, consagrado no mundo, traduzido e estudado em universidades americanas, já na mira dos japoneses.

Para entender Salgado Maranhão, precisa conhecer algumas técnicas utilizadas na criação de um poema. Primeiramente, o poeta foge às mesmices frases do cotidiano. Arte não é só fazer, mas criar, diferenciar.  Lapidar a pedra bruta. Salgado perde tempão, dias para concluir um poema. Escolhe o tema, sai garimpando fontes históricas, paisagens, tipos e conflitos humanos. Elementos que servem apenas de pano de fundo para traduzir estados mentais, abstratos. Substantivos cuja substância escapa ao sensorial ao transcendente. Observe o poema abaixo, ESGRIMA, inspirado na arte marcial japonesa. Tente descobrir a mensagem embutida nos elementos associados à técnica de combate, até morrer. Reuni estrofes para economia de espaço:

“Foi no escudo de aço em alta têmpera/que Musashi forjou a sua esgrima,/removo agora a poeira dessa era/que a espada se confunde com a sina,/que o samurai ao despertar a morte,/vai de encontro à sua própria rima)./ Colhendo os anos ao sabor da sorte,/ aos treze, racha o crânio de um rival;/foi o carimbo de seu passaporte./ para o caminho do risco integral:/ o Bushido, a katana, o sangue em flor,/sob o clamor de um céu medieval!/Eram combates de um certo esplendor,/de cortes limpos, quase sem fratura,/para alcançar a perfeição da dor./pois esse deus de fogo e de loucura,/em cuja lenda um povo se conduz,/largou no esquecimento a tal bravura,/para fundir-se ao Zen e à sua luz/de cerejeira na estação que cai:/pra não deixar do antes no depois,/nem sombra do que fora no que vai,/e, entre pincéis, pinturas e Kanjis,/reinventar seu mito num hai kai.

Elementos históricos que compõem o poema: Esgrima, espada fina de aço muito resistente; espadachim, o lutador, o samurai; Musassi, maior samurai (lutador) da arte marcial, nascido em 1584, em Harima, atualmente Japão. Samurais, classe feudal, guerreiros da elite feudal japonesa; Niten, apelido de Musassi, por criar o estilo de luta com duas espadas, isto é, dois céus, deus, que, aos treze anos, mata um rival. Bushido, código rigoroso de honra, alma e espírito (katana) do samurai, até de morte, se rompido, por exemplo, tornando mais perfeito do que o mestre; Musassi foi além do mestre, por isso, ele mesmo ofereceu o pescoço a um samurai, durante duelo: “Mata-me!”. Negado, ele mesmo desferiu a esgrima no pescoço. Alcançou a máxima perfeição, iluminado, Zen, divino, festejado nas flores de cerejeira que caem, nos Kanjiis (ideogramas japonese), no herói nacional dos samurais) e nos hai kais, na memoria e artes japonesas.


Se eu não soubesse alguma coisa sobre as fontes inspiradoras, não chegaria ao fundo do pré sal do poema, para extrair o recado do poeta: exaltar a grandeza humana e talento dos heróis na pessoa de Felipe Hiro, 33 anos, filho de brasileiro com japonesa. Jornalista, escritor, correspondente nos Estados Unidos, fala árabe, alemão, inglês, italiano, português, japonês e espanhol. Felipe não aparece no poema, porque a mensagem é universal. Um herói zen. Um poema porreta, quase indecifrável, do herói samurai das letras, Salgado Maranhão do Piauí.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário