sábado, 21 de maio de 2016

Comentário de Alcenor a Histórias de Évora

            
Alcenor visto por Fernando di Castro
Gervásio Castro por Gervásio a fazer a charge de Elmar


            Recebi o e-mail abaixo do poeta e escritor Alcenor Candeira Filho, meu amigo há várias décadas, desde que fui morar em Parnaíba, em meados de 1975.

            Logo após o seu comentário, segue minha resposta, em que esclareço suas dúvidas e faço outras observações.


             Prezado amigo Elmar,

          Venho acompanhando com grande interesse a publicação semanal de cada capítulo de HISTÓRIAS DE ÉVORA. Acabo de ler o de nº VI, através do qual começo a perceber melhor o que constituirá verdadeiramente a essência do núcleo dramático central dessa obra de ficção.  Presumo que com a continuação e a conclusão do livro, o leitor vai constatar que não se trata de obra de ficção erótica como pode parecer até agora, mas de romance de caráter memorialístico e autobiográfico onde o apelo sexual, tão presente nos capítulos iniciais e que provavelmente reaparecerá em outros, não passa de detalhe no meio de vários episódios "pitorescos, jocosos e escabrosos" (Cap. VI) que serão ainda apresentados e que marcaram a mocidade de Marcos, personagem autobiográfico.

          Não sei se estou no rumo certo, mas com certeza a fictícia Évora é na verdade a cidade de Parnaíba, onde o autor morou na juventude.  As alusões a POEMITOS DA PARNAÍBA (poemas de Elmar Carvalho e ilustrações de Gervásio Castro), a MEMÓRIAS e a MEMÓRIAS INACABADAS (Humberto de Campos), a TOMEI UM ITA NO NORTE (Renato Castelo Branco) e ao cabaré QG (Quartel General) localizado "no centro histórico de Évora", isto é, na rua Conde D'Eu,em Parnaíba,  me induz a essa convicção. E mais: a "Casa Britânica" de propriedade de "James Cavalcante Taylor" (Cap. II) não será em verdade a tradicional Casa Inglesa, sediada no centro histórico de Parnaíba e de propriedade de James Frederick Clark?

          Na expectativa da leitura dos futuros capítulos, despeço-me do amigo com um grande abraço e com os parabéns pela forma inteligente, artística e criativa com que vem construindo o romance HISTÓRIAS DE ÉVORA.

Parnaíba, 20-05-2016.

Alcenor Candeira Filho


                 Caro amigo Alcenor,

            Você é um observador arguto, uma vez que é leitor compulsivo há longos anos, professor de literatura há várias décadas, bem como profundo conhecedor de crítica e de teoria literária.

            De fato, como você bem notou e anotou, o meu romance em construção não irá descambar para o meramente erótico; mas não poderia deixar de ferir essa temática, uma vez que o protagonista é um adolescente, no começo de suas descobertas sexuais. Certamente é uma personagem em formação, mas chegará à juventude e maturidade.

            Embora Marcos não seja um meu alter ego, contudo alguns episódios desse romance terão algo de autobiográfico, mas também registrarão “causos” e fatos acontecidos com parentes, amigos e conhecidos, além de conter estórias e histórias que ouvi contar ao longo de minha vida. Mas todos esses fatos e façanhas serão bastante modificados, misturados com outros, exagerados ou mitigados, para que os personagens verdadeiros não possam ser identificados e para que eu não venha a sofrer eventual ação indenizatória. Muitas cenas e cenários serão pura ficção, claro.

            Évora é uma cidade fictícia, situada no Nordeste do Brasil, não sei se exatamente no Piauí. Todavia, terá muita coisa de Parnaíba (como você muito bem identificou), de Campo Maior e, em menor escala, de outras cidades piauienses. Foi um recurso de que lancei mão para dificultar o reconhecimento de certos episódios romanescos como sendo da chamada vida real.

            Com relação à Casa Britânica, devo esclarecer que muitas grandes firmas, com matrizes em Parnaíba, tinham filiais em Campo Maior. Quanto ao QG, outros cabarés serão evocados, com o próprio ou com nomes fictícios. De qualquer forma, como pano de fundo, o romance terá uma contextualização sociológica, histórica, econômica e antropológica, ainda que de forma superficial, pois para mim o mais importante serão as histórias que irei narrar.

            Conquanto eu vá utilizar recursos da considerada vanguarda literária, como eventuais saltos cronológicos para o passado ou para o futuro, fluxo de consciência, intercalações de outros discursos, que não apenas o do narrador onisciente e onipresente, não pretendo fazer um romance para romancistas e “entendidos”, mas que possa ser compreendido e fruído por um leitor comum, sem hermetismos de nenhum forma. Por conseguinte, pretendo contar estórias que possam despertar o prazer de quem venha a lê-lo; ao menos é esta a minha intenção, que desejo conseguir.

            Os autores citados no capítulo VI (evidentemente com exceção deste neófito romancista) são grandes memorialistas, da predileção de Marcos Azevedo, que eu quis homenagear.

            Em resumo: você desvendou o enigma, não totalmente na íntegra, mas acertou nas asas da “mosca” e a deixou fora de combate.

Teresina, 21-05-2016.

Elmar Carvalho

2 comentários:

  1. Prezado amigo Elmar,
    Gostaria de parabenizá-lo pelo romance Histórias de Évora. Assim como tantos outros leitores, tenho acompanhado atentamente cada capítulo desta belíssima obra. Você, mais uma vez, brinda os amantes da literatura com um grandioso trabalho.
    Abraços,
    Ben-Hur Sampaio

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  2. Caro amigo Ben-Hur, muito obrigado por suas belas palavras de estímulo.
    Que Deus me dê persistência e força de vontade para continuar construindo esse projetado romance.

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