sábado, 26 de março de 2016

Ovos de páscoa, uma ova!


Ovos de páscoa, uma ova!

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

         Semana Santa, morte e ressurreição de Cristo. Somente ele, e não mais ninguém, veio ao mundo para romper o mistério do destino humano depois da morte. Jesus aceitou o aniquilamento de seu corpo, para logo ressuscitar. Prova de amor à humanidade, duvidosa da existência de outro lado da vida. Que só à luz da fé nas suas palavras para decifrar e aceitar fantástico mistério, que se repetirá conosco, conforme promessa do Mestre. Que a felicidade eterna se alcança, praticando misericórdia com o próximo, despojando-se do egoísmo exacerbado à vida material.

A sociedade moderna, pautada no consumismo e bens de capital, transforma as representações do sagrado em produtos de mercado, desviando-se de sentido mais sublime da espiritualidade.

No natal e páscoa, o homo religiosus contemporâneo direciona suas relações com o sagrado, comercializando apenas bens simbólicos da religião.  Esta demanda fortalece a constituição de um mercado de consumo, especializado na oferta daquilo que está, especialmente, na mesa. Uma espécie de religiosidade de glutões, e não de crentes.

Símbolos natalinos e pascais transformam-se em produtos mercadológicos, na hipócrita impressão de fé. Cristãos primitivos traduziam a fé com a pedagogia dos símbolos, sem intenções mercadológicas: ovos simbolizavam a ressurreição de Cristo: assim como o pinto sai do ovo, espontaneamente, Jesus libertou-se do sepulcro. A fertilidade do coelho retratava a fertilidade da graça em Jesus. Em tempo de jejum, substituía-se a carne vermelha por modesto peixe. A apelação comercial moderna, porém, explora antigas tradições com o consumo fantasiado de religiosidade. Os preços disparam, e a espiritualidade reduz-se a paganismo, “cujo Deus é o ventre”, no dizer de Paulo apóstolo.

Ouro, incenso e mirra, presentes oferecidos pelos reis magos, na gruta de Belém, servem para movimentar gigantesca indústria de papai Noel, em dezembro. O período da quaresma, com restrições ao consumo de alimentos, antecipa-se, porém, com o carnaval de nudismo, comilança e devaneios pagãos. E espírito religioso às favas.

A fé industrializou-se em ovos de páscoa, coelhinhos, papai Noel, receitas de pratos raros, caros, de nenhuma aliança com o transcendental. A televisão se enche de reportagens ao sagrado, associadas a superficialidades, superstições e crendices, quase sempre aceitas como “fé popular”, mas sem atingir o verdadeiro sentido da fé inteligente e menos emocional.

Criei-me em família cristã. Meus pais e uma vida modesta. Conceitos de virtudes e de vida santa, exemplos repassados aos filhos. Éramos abençoados porque aprendíamos, desde cedo, a exercitar a presença de Deus na família conjugada à Igreja.

O mal atravessa gerações, quando se negligencia o exercício das virtudes. O bem vai mais além, rompe até quarta ou mais gerações. Graças à educação recebida no ninho de meus pais, depois em seminário franciscano. A indústria do consumo não me seduz, na tentação do fruto paradisíaco. Ovo de chocolate com mensagem pascal, uma ova! Vai-te satanás!   

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