terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

COISAS SÓ DE OEIRAS


COISAS SÓ DE OEIRAS     

(*) Ferrer Freitas

               No prefácio do “Noturno de Oeiras”, de autoria do poeta campomaiorense  Elmar Carvalho,  impresso em opúsculo de 1994, outro bardo, só que oeirense, Gutemberg Rocha,  diz logo  no primeiro parágrafo que “...existe um grande mistério em Oeiras (...) alguma coisa de sobrenatural,  que foge à razão, que fala diretamente à emoção, à sensibilidade...”   Disse tudo em poucas palavras. Queiram ou não (agora digo eu), a velha urbe de Possidônio Queiroz difere em parte de outras tantas por coisas que só lá se vê ou acontecem.  Evidentemente que aqui talvez  vá um pouco de  exagero de minha parte.  Para dirimir qualquer dúvida,  consultei um grande oeirense, Adelino de Sá Rocha, ex-prefeito, que tem uma memória prodigiosa.

                  Pois Bem. Os “Beneditos”, em sua maioria, são tratados por “B.”, acrescido de sobrenome, a exemplo  de  B. Diogo,  B. Reis,  B. Barros, B. Moreira,  B. Filho, todos,  lamentavelmente, já falecidos.  Dois outros, para  alegria dos muitos amigos  que têm, entre os quais me incluo,   merecem ser citados, o caríssimo B. Sá, ex-prefeito, companheiro de bons tempos no Rio de Janeiro nos anos setenta, e o famoso B.  Maroca.   Outra coisa que causa espécie é o fato de  “alguém ser sempre de alguém”,  pai  ou  mãe, a exemplo  de José de Helena, José de Tibúrcio, Pedro de Ernesto,  Geraldo de Leomisa,  Luís de Burane,  Antônio de Gerson, Bastim (Sebastião) de Gerson,  Expedito de Manoel Leite, Ângelo de Natu  (Nataniel), Ângelo de Maria Raimunda, Raimundo de Zefinha, também falecidos.  Apraz-me  citar outros, todos vivos, ainda bem: Antônio de Selemérico, Luís de Ana, Chico de Maria de Cota (Maria, sua mãe, já era de Cota), Antônio de Aderson e por aí vai.

                 No centro histórico, algumas  ruas,  estreitas é bom frisar, além de chamadas por becos, são mais conhecidas pelo nome do morador de uma das esquinas  ou de algo  que as marquem, a exemplo de   Beco de Antônio Gentil,  Beco de  Francisquinho Barbosa, Beco de Ovídia, Beco de Maria Camarço, Beco de Hipólito, Beco do Sérgio, Beco do Cemitério, Beco do Sobrado,  Beco do Mocha,   Beco do Quartel e por aí vai. Este último, que tem seu inicio na Praça das Vitórias,  entre a Pousada do Cônego e a agência dos Correios,  tem esse nome, Beco do Quartel, pelo fato  do  prédio   anterior ao  que hoje  sedia a  ECT  ter sido o quartel da Brigada.  Esta via termina no Passo de Lindoca, esquina da rua Coronel  Luiz Rêgo, amplamente conhecida por rua do Fogo. Nessa direção contrária já é mais conhecido por Beco de dona Iazinha Ferraz, cuja casa é geminada ao Passo.

                Neste último aspecto a velha terra das margens do Mocha tem muito a ver com cidades históricas, sobretudo as de Minas.  Isso de beco lembra muito Diamantina  que inspirou Milton Nascimento e Fernando Brant, em 1969, a comporem  uma canção belíssima  que leva o nome de “Beco do Mota”, cujos três últimos versos da letra dizem: “Diamantina é o Beco do Mota/Minas  é o Beco do Mota/Brasil  é o Beco do Mota/Viva meu país!”. Talvez  seja ainda oportuno  transcrever os versos finais do Noturno, o que faço com prazer: “Oeiras navega na noite/de um tempo que não termina./De um tempo fugitivo de ampulhetas e relógios."


                     (*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras

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