sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Antônio Gonçalves Pedreira Portellada


Antônio Gonçalves Pedreira Portellada

Reginaldo Miranda
Da Academia Piauiense de Letras

Foi um abastado comerciante, agropecuarista, político e militar luso-piauiense radicado em Teresina desde o começo do lugar. Provavelmente, o homem mais rico do Piauí em seu tempo.

Nasceu Antônio Gonçalves Pedreira Portellada, em 17 de setembro de 1827, no Alentejo, em Portugal, filho de Manoel José Gonçalves Portellada e dona Joana Gonçalves Pedreira, ambos de origem humilde, porém, honrados e trabalhadores.

Mal completou a maioridade, desejoso de prosperar e sentindo a falta de horizontes em seu meio, tomou uma embarcação e rumou para o Brasil, fixando residência na cidade de Caxias, na vizinha província do Maranhão. Embora sem trazer recursos financeiros, mas com enorme força de vontade, lançou-se no comércio iniciando o combate braço a braço, sem nenhum capital, inteiramente desajudado de proteções, e venceu galhardamente, o que diz eloquentemente de seu valor.

Com a fundação de Teresina, em 1852, não perdeu tempo logo vislumbrando as grandes possibilidades que se abririam na nova capital do Piauí. E a elege como residência e novo teatro de suas lutas. Estava ainda no verdor da mocidade, com apenas 25 anos de idade, em plena florescência, no anseio ininterrupto de vencer. Determinado, empreendedor, em pouco tempo alcançou posição de relevo no seio da classe comercial. Embora sem grande formação escolar, ninguém melhor do que ele tinha o descortínio dos grandes negócios, operando com inteira segurança e admirável êxito.

Sobre sua vinda para a região, não sabemos se foi trazido por algum parente. Talvez, o coronel Manoel Domingos Gonçalves, rico proprietário e contratante das primeiras obras de fundação de Teresina, tivesse com ele algum parentesco.

Em julho de 1871, Portellada recebeu o título de naturalização brasileira, juntamente com os demais portugueses: José Bento Valladares, Ricardo José Teixeira e Domingos José Salabert (O Piauhy, 5.8.1871).

Em Teresina, criou empresas e abriu lojas de importação e exportação de todos os gêneros, demonstrando tino e capacidade empresarial, a cada dia aumentando e consolidando sua fortuna. Com a prosperidade dos negócios, entrou em rota de colisão com outro potentado do lugar, o também rico comerciante José de Araújo Costa, prócer do Partido Liberal, que, incomodado com sua concorrência, contra ele ajuizou infundadas ações no foro de Teresina, algumas delas respingando na imprensa. Em 1873, o litígio versava sobre um arresto feito por Portellada nas fazendas Calumbi e Boa Esperança, do termo de Marvão, hoje Castelo do Piauí, em que Araújo Costa e seus sócios se acharam prejudicados, propondo perdas e danos. Sobre o episódio anotou Portellada em 28 de julho de 1873:

“Fui levado a juízo por um inimigo que me devota todas as suas reconhecidas e provectas amabilidades do rancor e do ódio mais entranhado, somente para ter ele o prazer insensato de perseguir-me, de obrigar-se a gastar a minha modesta fortuna, adquirida a troco de trabalho perseverante, mas que atrai as vistas cobiçosas do potentado meu inimigo, para quem é crime grave o viver independente de qualquer sujeito que presume ser o árbitro dos destinos de uma província, do seu comércio, navegação e riqueza, querendo suplantar a todos” (O Piauhy n.º 274 – Órgão do Partido Conservador, 31.7.1873).

Essa opinião também foi partilhada pelo escritor e político liberal Clodoaldo Freitas, traçando o perfil do correligionário admitiu:

“Opinioso e cheio de rancor, muitas vezes, por um capricho, sustentava questões em que despendia elevadas somas, como aconteceu em mais de uma ocasião com o negociante Portellada, seu inimigo, alegando que assim procedia para fazer ‘o marinheiro gastar dinheiro, o maior mal que lhe podia fazer’” (FREITAS, Clodoaldo. José de Araújo Costa. In: Vultos piauienses. 3ª Ed. Teresina: APL/EDUFPI, 2012. P. 137).

Com o tempo tornou-se o maior comerciante do Piauí, com matriz da loja de fazendas, armarinho, secos e molhados, estabelecida na Rua Grande, atual Álvaro Mendes, 11, em Teresina. Dono de imensa fortuna fez alguns empréstimos ao Estado do Piauí, a pedido de seus governantes. Em 1913, seu filho José de Lobão Portellada, comerciante de ferragens, miudezas e exportação, emprestou 150.000$000 ao governo Miguel Rosa para iluminação e abastecimento d’água de Teresina.

Também, foi grande latifundiário e fazendeiro, criando gado vacum nas fazendas Flores, Taboquinha, Noivos, Remanso e Piripiri, entre outras. Trouxe para Teresina, o sobrinho Antônio Gonçalves Portellada Sobrinho, que tornou-se seu sócio na empresa Portellada& Cia. Este, também criava gado vacum na fazenda Torrões.

Pertenceu à Santa Casa de Misericórdia de Teresina, sendo nomeado 2º Mordomo do Hospital por ato de 28.6.1869(O Piauhy, 30.6.1869; 28.11.1871).

Antônio Portellada ocupou o cargo de presidente da Associação Comercial do Estado. Ao falecer, era diretor da Companhia de Fiação e Tecidos Teresinenses, de que era um dos principais fundadores e acionistas, e da Companhia de Navegação a Vapores no Rio Parnaíba, nas quais prestou relevantes serviços.

Ingressou na guarda nacional, alcançando os mais diferentes postos até ser nomeado por decreto de 31 de julho de 1897, coronel comandante superior da 1ª Brigada de Artilharia, tendo o filho José de Lobão Portellada, na mesma oportunidade, sido nomeado capitão-assistente da mesma(Diário Oficial, 4.8.1897).

Militou na política, filiando-se ao Partido Conservador, em cujas fileiras permaneceu até o ocaso do Império, gozando sempre da estima e consideração de todos. Por esse tempo seu genro Raimundo de Arêa Leão, foi eleito vice-presidente da província, tendo assumido o cargo algumas vezes. Com a proclamação da República continuou na política, filiando-se à agremiação política liderada pelo Barão de Uruçuí, que tinha nele um decidido e eficaz cooperador. Porém, com a confusão dos partidos, na situação Anísio de Abreu, retirou-se da vida pública, reaparecendo na arena política para prestigiar a “União Popular”, de que foi um dos chefes o seu filho, o tenente-coronel José Lobão Pedreira Portellada(O Apóstolo, 18.12.1910).

Foi eleito intendente municipal de Teresina nas eleições de 31 de outubro de 1896, para um mandato de quatro anos(7.1.1897 – 7.1.1901). Nessa gestão, para combater a erosão no cais do rio Parnaíba, contratou com a firma de José Mayer, a construção de rampas e taludes da Rua Bela, hoje Teodoro Pacheco, e do Pequizeiro, hoje Paissandu(GONÇALVES, Wilson C. Dicionário enciclopédico piauiense ilustrado. Teresina: 2003).

Foi casado com dona Antônia Joaquina de Lobão Portellada, católica fervorosa, benemérita da Igreja, e de cujo consórcio deixou três filhos: 1. José Lobão Pedreira Portellada, abastado comerciante, deputado estadual(1912 – 1916); 2. Marcolina de Lobão Portellada Santos, falecida antes do genitor, casada com o capitão Joaquim Antônio dos Santos, ricos negociantes em Parnaíba; e, 3. Joana Portellada de Arêa Leão, casada com o médico Raimundo de Arêa Leão, foi vice-presidente da província.

O citado sobrinho por ele trazido do reino em 1867 foi Antônio Gonçalves Portellada Sobrinho, comerciante, nascido em 1854, em Portugal, filho de Manoel José Gonçalves Portellada e dona Francisca Alves, ambos falecidos no Reino de Portugal, Província de Trás-os-Montes, lugar Covelans do Rio. Este deixou diversos filhos havidos com dona Alexandrina de Carvalho e Silva, natural de Teresina, filha de Amador Vieira de Siquera e Filomena Vieira Torres, então residentes em Teresina.
Faleceu o coronel Antônio Gonçalves Pedreira Portellada, na cidade de Teresina, em 12 de dezembro de 1910, a uma hora da manhã, vítima de congestão cerebral, com 83 anos de idade, sendo o corpo sepultado no dia seguinte, no cemitério São José. Recebeu o sacramento da extrema-unção pelo Bispo D. Joaquim de Almeida, que, no dia seguinte, celebrou a missa de corpo presente, no salão de honra de sua casa residencial. O sepultamento foi dos mais concorridos, comparecendo a melhor sociedade e muitas pessoas do povo.

O coronel Antônio Portellada, foi um típico empresário do final do Império e começo da República, fortalecendo o comércio da nova capital do Piauí, tornando, assim, realidade o sonho de Saraiva, de tomar de Caxias a primazia comercial no centro-norte do Piauí e médio-sertão maranhense. Soube tirar proveito dos incentivos e otimismo da época, crescendo com a nova cidade e ajudando-a a ser o grande centro comercial de hoje. A ele muito demos e muito devemos.    

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