terça-feira, 19 de maio de 2015

Engajados, alienados, ludibriados


Engajados, alienados, ludibriados

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

             A canção de Chico Buarque, crítico da ditadura militar, parece se repetir nas atuais circunstâncias que apavoram a população: “A gente vai contra a corrente/ até não poder resistir/ Na volta do barco é que sente/ o quanto deixou de cumprir”. Bem que a geração atual se engajasse em heroica luta contra políticos que ludibriam cidadãos. Discursos para engabelar a população sem consciência crítica, com mixurucas promessas e bolsas de sobrevivência, miséria e alienação.

         A empulhação virou pasta de governo: na hora de negociar reajustes de salários, bota a culpa na Lei de Responsabilidade Fiscal. Paradoxal e cretinamente, multiplica cargos de confiança e secretarias para acomodar gentilezas políticas. Ademais, governador dobra próprio salário, confortado, às expensas do erário público até para assepsiar-se no banheiro.  Na virada do ano, deputados sentaram-se gulosos nos custos de gabinete. A política da retórica esfarrapada de disfarce e interesses pessoais. Deputado Robert Rios, acostumado a petardos de ocasião, declarou à coluna EM TEMPO, do Diário do Povo, a propósito da farra de dinheiro  que o governo do Piauí gastará com a convocação de suplentes de deputados: “O que se gasta com esses suplentes daria para pagar salários a 1.500 soldados”.

         Na época de ouro da rádio AM, Deoclécio Dantas, da Pioneira, esculachava a malandragem política. Encerrava sempre a amalaguetada crítica com um soco na mesa, dirigindo-se ao controlador de som com memorável bordão: “É uma lástima, Chico Paulo”. Outro jornalista, Donnizeti Adalto, anos 90 da modernidade televisa, bombardeava a sujeira moral da elite: “Morro e não vejo tudo!” Foi assassinado pela verborreia e discutida ética profissional. O certo é que, daqueles anos para cá, outro bordão foi plantado por palhaço cearense, Tiririca, em campanha eleitoral para deputado federal de São Paulo: “Do jeito que está, pior não fica”. Pior é que ficou, porque se elegem políticos com certificado de palhaço e malandragem.

          A Rádio CBN informa que o Brasil se encontra atrás de 60 países no desempenho da Educação. A TV Globo repetiu a notícia. Em primeiríssimos lugares, vários países do Oriente. Exatamente aqueles que não se divertem com dinheiro público, que executam corruptos e traficantes, que investem maciçamente em educação e saúde. Botaram para trás Alemanha, Inglaterra e civilizado norte da Europa. Estados Unidos, tadinho, quase 40 países na frente. Brasil piscando o olho para o Gamão, em última colocação.

         Neste exato momento, nos corredores de hospitais, imundos e fétidos, misturam-se crianças, velhinhos e senhoras prenhes, desesperados, feridos, sangrando, feridas putrefando. Horror que se repete, diariamente, que só catástrofes de Nepal. Neste instante, colégios sem professores e merenda escolar. Cadê o dinheiro que botaram aqui? Gatunos roubaram, tingiram a face de Cristo a bofetadas e espinhos. Ecoa ainda o clamor do poeta da escravidão: “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus, se é mentira, se é verdade tanto horror perante os céus?!”

         Servidores públicos em greve cobram mais respeito à Educação e Saúde de melhores salários. O governador, que, no passado, ocupava programas sindicais das rádios e protestava frente a bancos e escolas, manda dizer que a Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe excesso de gastos. Pelo que se sabe, excesso de gastos e malandragens não constam da pauta dos abnegados e despojados funcionários. Então, quem merece borrachadas policiais? É hora, portanto, de engajamento, de cutucar o poder, repetir a canção: “A gente vai contra a corrente...”   

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