sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O ovo


O OVO

Elmar Carvalho

Encontrei um ovo, em terreno limpo, plano e desértico, sem nada perto que se assemelhasse a um ninho. Notei que a casca apresentava fissuras. Logo percebi que a clara, que se mostrava um tanto pastosa, quase gelatinosa, pulsava, como se algo dentro do ovo se mexesse. Imaginei fosse um filhote de pássaro, forcejando para vir à tona. Passados alguns minutos ou apenas segundos, algo semelhante a uma ave veio à luz.

Quando olhei atentamente, percebi que sua cabeça parecia a face de um minúsculo homem, contudo circunspecta e já envelhecida. Entretanto, não lhe vislumbrei sinais de terror ou desespero. Antes, lhe notei uma calma resignada diante do inelutável.


Um manto de desolação, velhice e decadência parecia tudo envolver. Acaso aquele ovo seria o caos e o átomo primordial de algo que estava por vir? Quando olhei novamente, o ovo se recompusera e dele explodiu um lindo e imenso e incandescente cogumelo apocalíptico. Um rugido de dor e lamentação estilhaçou o silêncio.

(Extraído do livro inédito Arte-fatos oníricos e outros)     

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