terça-feira, 11 de novembro de 2014

“DUAS METADES IGUAIS”


“DUAS METADES IGUAIS”

Jacob Fortes

Intencionalmente invoquei esse pleonasmo para dar mais robustez ao meu pensamento: “duas metades iguais” só têm a mesma exatidão, a mesma equivalência, perante os rigores incontestáveis da matemática. Salvante isso, “duas metades iguais” podem perfeitamente apresentar desigualdade: no formato, na consistência, no plano tintorial, na palatabilidade, no odor, etc.

No sufrágio de 26 de outubro de 2014 a Presidente Dilma sagrou-se reeleita, 51,59%, enquanto o seu concorrente, Aécio Neves, obteve 48,41% dos votos válidos. Esse escore exprime legitimidade; brilho, não. Obviamente, sob a rigidez da aritmética, esses percentuais não retratam “duas metades iguais”, mas, se tomado por empréstimo a terminologia das pesquisas, “empate técnico”, esse placar abona dizer que o resultado da eleição traduz, sim, “duas metades iguais”. Apenas uma delas discorda quanto ao eleito, mas discordar não quer dizer detratar. Afinal, é no embate, sem esgrima, entre o consenso e o dissenso que se asila a liberdade de regime.

Não faz muito tempo, junho de 2013, sucessivas turbas de brasileiros — poucas em serenidade, muitas sob o furor de ação turbulenta, outras à gandaia, outras ainda sem se dar a conhecer — se aventuraram pelas ruas das metrópoles pleiteando mudanças, melhores serviços públicos e o fim da corrupção.  O pleito requerido em via pública foi ratificado nas urnas, 48,41%, desta feita de modo ordeiro, por um civismo sem-par.

Ainda que impossível obter-se a unanimidade do conjunto das opiniões, pô-las inteiramente em concórdia, de bom alvitre seria que a reeleita, em prol da boa ordem nacional, adotasse medidas que visem amortecer os ânimos, desfazer a dicotomia e, principalmente, atender aos reclamos brasileiros, nomeadamente os que foram realçados de modo sequioso durante as exigências tumultuárias das ruas.

Em vez de contrariar-se com a banda votiva adversa à que ainda se enleva com a vitória, salutar seria que a reeleita pudesse (sofreando as diferenças e em jejum de vaidade) sair de si e, com moderação sacerdotal, aprestar-se ao congraçamento do País, agremiar o todo demográfico. Todavia, não parece crível que tal desiderato possa ser alcançado apenas por meio de homilias, que vão ao vento, acerca de promissões governamentais, mas com ações concretas; pressurosas, de preferência.

Para ver-se auspicioso em seu leme o timoneiro de uma embarcação, ainda mais se titânica for, não olvida o ensinamento histórico de que antes de levantar âncora é preciso aquilatar o nível de harmonia da sua legião de passageiros.

A pátria será tanto mais mal aviada quanto mais atiçadas forem as chamas que tenham por objetivo convulsar a sua gente; contendê-la.       

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