terça-feira, 16 de setembro de 2014

Engajamento ou alienação política?


Engajamento ou alienação política?

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Há tempos, observo, desencantado, o comportamento alienado de expressiva parcela dos jovens, inclusive de universitários. A galera, ou patota, como se dizia no passado, não “se liga nos 30 segundos” para exibir habilidades políticas ou conceitos quaisquer de filosofia política. O que não é bom. A moçada parece contentar-se somente com a conquista do diploma superior, para enfrentar concursos públicos, acomodar-se ao emprego, arranjar-se financeiramente. Só. Associada aos estudos, encolhe-se a uma pilha de cds com músicas de péssima qualidade, para embalar momentos de lazer.

Engajado ou alienado? Dois verbetes exaustivamente utilizados, no passado, em círculos universitários, nos sermões, nos discursos inflamados da esquerda política contra o regime militar. Engajados exibiam a marca do protesto panfletário, dos “aparelhos” clandestinos de guerrilha urbana, reuniões secretas, decorebas de bordões fabricados na Rússia e Cuba para implantação do regime comunista no Brasil. Contestar significava inteligência. Exaltavam-se músicos ativistas do Geraldo Vandré, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque de Holanda, que seduziam estudantes engajados às letras primorosas e ricas de metáforas ousadas de contestação, sob a mira das baionetas militares. As inteligências detestavam Roberto Carlos e a turma do iê, iê, iê e Jovem Guarda. Só tratavam de temas românticos, portanto do time dos alienados. Engajados enchiam ginásios com canções de protesto. Alienados seduziam o povão, pouco interessado nos temas nacionais.

Engajados sustentavam temas polêmicos contra o sistema de desigualdades sociais. Alienados, todos aqueles que se afastavam dos compromissos sociais e se encastelavam nos benefícios pessoais. Os dois termos, que serviram de contraponto entre o capitalismo e o socialismo, caíram de moda, depois da queda do Muro de Berlim.

         No Brasil, não se fala mais em engajamento ou alienação política. Todavia alguns extremistas da surrada esquerda bolchevista cubana continuam repetindo velhos e surrados bordões de antanho, mas sem respaldo popular.

O atual momento político do Brasil está mais para interesses pessoais de enriquecimento ilícito do que pela construção social. Talvez se explique a alienação e desinteresse dos jovens pelas questões nacionais. Basta curta conversa com estudantes de nível médio e superior: “Como você vê a atual elite política brasileira”. Respostas monossilábicas: “esculhambação!” Ou mais incisiva: “Bando de ladrões!”

Os jovens brasileiros de hoje são alienados, não possuem senso crítico, e setores da imprensa também alienantes, bem como o processo educacional atual. Poucos programas de televisão oferecem educação para jovens, exceto em horários pouco habituais ao interesse estudantil. Os jovens não acompanham e não gostam de política. Quando têm interesse político, tendem a acompanhar a posição de seus pais, conservadora.

Os jovens brasileiros precisam tirar lições políticas da juventude argentina, que gosta mais de ler e de acompanhar as questões de interesse nacional, apartidários, e, melhor, sem quebra-quebra. Sonho ver jovens politizados e patriotas. Talvez esta geração me cure desse sentimento desencantado.       

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