quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A menina que roubava livros


A menina que roubava livros

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

             O romance do premiado escritor australiano, Markus Zusak, seduz adolescentes, graças à inclusão da obra em alguns currículos escolares ou à interpretação para o cinema. Clássicos brasileiros parecem fora de moda; professores mal leem e conseguem interpretar Machado de Assis. Encostam-se apenas nos resumos.

         Durante a Segunda Guerra Mundial, uma garota, Liesel, abandonada, sobrevive, miseravelmente, fora de Monique, através de livros que rouba para estudar. Ajudada pelo pai adotivo, aprende a ler e partilhar livros roubados com seus amigos. Conduta reprovável, porém prazerosa, pela oportunidade de colecionar amigos para leitura e estudo, em busca de sentido da existência. Conquista um jovem judeu, que vive na clandestinidade em sua casa, no fundo de um porão. Um afeto que enche as páginas de ternura. Liesel, através da leitura, tenta amenizar a solidão do judeu.

         Não me interessa desfiar comentário sobre o romance de Markus Zusak. Chamou-me a atenção, digamos assim, o hábito pecaminoso de uma jovem ladra. Que pecado? Roubar livro para aprender ler, trocar ideias, conquistar amigos e horizontes de cultura?

         Que apareçam mais ladrões de livros para estudar. Assaltar para se curar da ignorância. Um livro, a melhor arma de fogo. Um estudante a mais, um bandido a menos. “Assalto! Deitem-se no chão, seus irresponsáveis! Quero livro! Quero aprender! Quero ser gente do bem, uma existência condigna!”

         Imagino delegacias e presídios obrigando detentos a ler, premiando-os com diminuição da pena a cada livro acompanhado de avaliação escrita. Começar por um livro da Bíblia, outro de história de heróis e vencedores ou de autoajuda. Nada de livros político-ideológicos com prontuário esquerdista.

         Já apliquei a receita aos estudantes bagunceiros. Punição com leitura, depois, redação. Os pais adoravam o santo remédio. Nada de expulsão de classe, suspensão e similares atitudes ridículas e humilhantes.  Meus filhos queriam sair para baladas nos finais de semana. Permissão garantida, mas acondicionada à leitura de matérias interessantes acompanhadas de comentário escrito. Mão na massa, ainda no início da semana. Ver novelas, sim, mas tinham de comentá-las por escrito.  Nenhum precisou de psicólogo por alguma mágoa, bullying. Ou de médico para exame de pressão e fezes. Práticas da leitura entre os jovens, e os presídios se esvaziarão, a vida terá mais sentido.         

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