terça-feira, 29 de julho de 2014

Novela, o império dos sentidos


Novela, o império dos sentidos

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

De tanto resistir, caí na tentação. A TV Globo já vinha anunciando, à exaustão, durante dias, a nova novela das 9 horas da noite. Wiliam Bonner completara: “Encerra-se, agora, o Jornal Nacional, mas assista, em seguida, à novela IMPÉRIO. Veja como um homem, depois de chegar ao fundo do poço, levanta-se e se torna dono de um grande império.”

Quem não resistiria? Eis aí o apelo, a propaganda, a sedução provocada pela tecnologia de ponta, num cenário paradisíaco, penhascos cobertos de bruma e vegetação, belos corpos aos abraços e amassos, duas belíssimas canções românticas.

Para começo de cena, um casal de jovens, de origem nordestina, enfrenta desumana sobrevivência na periferia do Rio. O marido, sem fertilidade para gerar um filho. O irmão, “sem lenço, sem documentos”, vindo de Pernambuco, bate-lhe à porta, em busca de trabalho na cidade. A cunhada atende o cunhado, que esboça um olhar certeiro na beleza da cunhada. O irmão o acolhe e lhe cede um quarto e comida. Nos primeiros dias, a cunhada cai nos braços do cunhado, e aí começa o primeiro capítulo de bombardeio à instituição do casamento  e da estrutura familiar, o pão nosso de cada dia das novelas, em geral. Acrescente-se, nos capítulos seguintes, como de praxe, o beijo gay, casamento gay, sob a criação e direção de novelistas gays.

Dia seguinte, mocinhas, rapazes e dondocas serão entrevistados para o “que acham” da trama. O relativismo do “se agrada, é bom, logo...” E assim a sociedade vai se ajustando ao império dos sentidos imposto pelo império televisivo. Sem defender valores morais, a construção sadia do caráter.

O que salva a audiência das novelas são os casos de paixões tórridas, uma diversão inconsequente e perigosa, que se transforma em intensa relação regida pela obsessão do prazer. Seguindo princípios dos autores e diretores da trama, para os amantes não existem fronteiras e limites na busca completa do êxtase. Os fins é que justificam os meios de gerar ibope.

O telespectador comum, despido de senso crítico, pouco reflete o enorme fosso entre amor e paixão. O amor prazeroso e divino, ou paixão doentia e irracional, capaz de todos os crimes e desvarios. Ou a diferença entre virtudes e vícios. As novelas confundem os limites morais, e, em busca de audiência, torna tudo maravilhoso, como um belo casal em fogosa transa, casados ou não, com o cônjuge alheio ou não. Linda, 18 anos, carinha de adolescente pura, Bruna Marquezine, aparece nua e sapecando as carnes dos marmanjos telespectadores, logo no primeiro capítulo de EM FAMÍLIA. Nem rei Davi resistiria a fulminantes desejos, contemplando a bela esposa, em banho, de seu fiel general. A sensualidade sem freios já vem dos jardins do paraíso edênico.

As novelas se propõem a fornecer sonhos e prazeres, encantos e paixões descartáveis. O resto é relativo. Depende do “eu acho”. Achismo barato, sem fundamentos filosóficos, sem limites. Quem defende esses mandamentos desligue a televisão ou mude de canal. Senão, cai na tentação. Pois o império global manda neste país.            

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