quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O assassínio de um professor de inglês

Foto meramente ilustrativa

Cunha  e Silva Filho


                 Não anotei  o nome dele. Sei que tinha  45 anos, um jovem ainda na flor da mocidade  produtiva, morto a tiros  por uma bandido  “cruel.” Estou  usando uma palavra de um delegado  onde  o fato  deplorável  foi registrado. Este marginal, com antecedentes criminais, ou seja,  era um delinquente, um  menor há um ano.
Segundo  declarações do delegado,  este energúmeno, que  tem atitudes  frias e uma  fisionomia  na qual  os  olhos indicam  o que lhe ia  no íntimo de sua alma perdida, aproveitou-se do fato  surpresa e tirou a vida  de quem   estava  no exercício de sua  profissão,  certamente  um professor  eu complementava  seu salário  com aulas  particulares, pois era isso mesmo que  o  mestre de inglês ia  fazer.
Estacionou numa das ruas de São Paulo e,  quando se  preparava  para   deixar seu carro  perto  da casa onde  daria uma aula,   de repente  vê na sua  frente  um espírito das trevas mefistofélicas que lhe exige  o carro e talvez  alguma coisa mais. O professor,  tendo  saído do carro,  num  átimo  de reação  mecânica,    não  se intimidou  e entrou  em luta corporal com  o meliante, predador  noturno  da vida  paulistana,  mais uma dessas  feras  (des)umanas espalhadas atualmente  pelas  ruas  da  trepidante  e sempre  perigosa   capital   paulista, a maior  cidade  da América  Latina.
 Lutou  por pouco  tempo com  o facínora que, talvez mais  habilidoso  e sendo mais  novo,  levou a melhor,  acertando, creio que à queima-roupa,  o peito e outras duas   regiões do corpo  do  jovem  professor. Foram, se não me  engano,  cinco tiros. Morte  imediata. 
Uma vida  encurtada  pela  impunidade  brasileira, pelo  código  penal superado,  pelas brechas    imorais de  nossa  legislação,  pela  desídia  de  nossa estrutura  jurídica de todas  os níveis da Federação e pela ausência  de medidas  governamentais  decisivas  a favor de mudanças    concretas   e duradouras. São   
Paulo agoniza não só nas  águas tempestuosas das inundações anuais e  mortais, atingindo, sem piedade,  sobretudo  as camadas  desfavorecidas da população,    mas também  no crime  impune  e  contínuo.
São Paulo, por suas qualidades,  que são  muitas,   e por seus defeitos  que  igualmente são inúmeros,  abriga   cotidianamente  todo  tipo de crimes e selvagerias  praticadas contra  seus  habitantes que,  além disso,  ainda têm  que enfrentar  uma  vida  árdua nos transportes  precários.
 Com demagógicas promessas de seus  governos  estadual e municipal de melhorarem    a qualidade   da educação pública sempre adiada, com    seus hospitais  sem condições de atender  à demanda gigantesca   de  milhões  de seus habitantes, com seus   moradores  pobres  sem  teto  ou  vivendo   em  favelas  da periferia, fruto dos  desníveis   sociais,  São Paulo  atingiu  seus limites  de resistência e, assim , clama  por mudanças  inadiáveis sob pena  de  ter que  enfrentar  a indignação   da sociedade.
São Paulo  e seus  quatrocentos e sessenta anos  de fundação em  25  de janeiro de 1554, tendo à frente a colaboração decisiva de dois eminentes  padres jesuítas, Nóbrega e Anchieta, o  Apóstolo  do Brasil. A São Paulo de hoje, ameaçadora  e a do passado, dos primeiros anos  do século anterior.  Triste   contraste!  Esta  última, mais  cordial,  mais  acolhedora,  praticamente  em seu  estado  puro de  província com  problemas, sim,  mas  de  diferente magnitude  e, sobretudo, sem  as agruras   causadas  pela   super-densidade  populacional sem freios, sem  o trânsito   caótico, os  seus ciclópicos engarrafamentos,  os grandes males  sociais que  deslustram  as suas origens histórico-religiosa-culturais, o seu   progresso mais  ordenado, a potência de sua  indústria e comércio, sua vida  universitária, seus centros de estudos, seus museus, enfim,   a sua condição de carro-chefe da economia  brasileira.
             Todo esse imbróglio de   condições  positivas e negativas  perdeu seu controle original,  sua  estrutura   de  grande urbe,  mas  bem  administrada, com   políticos mais   conscientes  de suas funções  públicas  e não  frutos  dos conchavos, compadrios na seleção dos candidatos aos  governos  estadual e municipal  e  truques baixos da  política nacional.
          Além disso,   todos  esses  erros imperdoáveis  das instituições  públicas são  causas  que propiciaram  a invasão do crime galopante, de  marginalidade    certa de que  não será  punida, seja  por  ser composta de menores  meliantes, seja  por  ser  formada  de adultos    irrecuperáveis,  portadores de cérebros  degenerados que não  podem   estar  em  convívio com  a  sociedade.
      São   autores  de  crimes  hediondos,  abomináveis,  de  extrema crueldade  e  frieza de sentimentos. São  do tipo   que  acabou  com a vida  do jovem  professor de inglês,  deixando  uma  viúva  para sempre psicologicamente  destroçada a cuidar  de um bebezinho e de um  filho  pequeno. Mais um número na estatística  da cidade do crime e da  ausência  de punição  de uma espécie que recomendaria sem restrições: a  prisão  perpétua.      

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