sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"Não me toques, Madalena!"



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Na televisão, ele é craque em anunciar venda de automóveis. Membro do conselho paroquial, o jovem marqueteiro encontrou-me no shopping. O papo desembocou em questão bíblica. O rapaz entende bem de Jesus Cristo, mas baseado na literatura cinematográfica e de ficção.
Há anos, episódios históricos têm servido de inspiração a obras de caráter ficcional, como romance. O real manipulado. O feijão com arroz condimentado com molho apetitoso. Relação afetuosa de Jesus Cristo para com Maria Madalena, segundo os evangelistas, apimentada de paixão sexual por romancistas. Judas, tesoureiro, ladrão das ofertas, traidor e suicida, conforme relato do evangelista João, virou herói em defesa do Mestre, na imaginação de escritores.
Muita gente põe fé em "O CÓDIGO DA VINCI", na "ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO", no MANTO DE CRISTO, mas não lê os quatro evangelhos canônicos. Sequer estuda um livro da Bíblia. Vive antenada à literatura do fantástico e imaginário. Uma espécie de tribo nerd, apaixonada por desenhos animados, filmes de realismo mágico, avatares e ficção científica. E se comportam como existissem.
O livro "O CÓDIGO DA VINCI", lançado em filme, cativou a atenção de milhões de leitores, enricou o autor. Uma excitante história de incursão pela Europa, em que personagens procuram a verdadeira identidade de Jesus Cristo, começando pela tela, "A Ceia", de Leonardo da Vinci. O livro provocou uma onda de turistas aos locais narrados, utilizados para ficção.
Jesus, gerado sem intervenção masculina, encantava pelo intenso afeto a indigentes, leprosos, cegos, prostitutas e excluídos da opinião pública, inclusive autoridades romanas e pagãos. Deixou-se tocar ("Quem me tocou?") por uma senhora com câncer no útero, e foi curada. Recebeu o beijo indigno de Judas. Fitou o covarde Pedro, que "chorou amargamente". Tocou numa falecida adolescente e ressuscitou-a. Lavou os pés dos apóstolos("Que vos ameis uns aos outros"). Abraçou crianças. Permitiu que Maria(que não se tratava de Madalena, mas a irmã de Lázaro), lavasse-lhe os pés com raro perfume. Madalena não é a prostituta condenada a apedrejamento. Evangelhos não a retratam prostituta, porém dela Jesus expulsara sete demônios. Na ficção inescrupulosa de romancistas, serve de inspiração carnal e marital a Jesus Cristo.
Apóstolos e mulheres, entre as quais três marias, acompanhavam Jesus e o serviam nas longas viagens de curas e pregação. Maria Madalena (e outras mulheres) assistiu o Mestre até o Calvário, preparou-lhe o sepultamento. Dois dias depois, saiu com Maria, mãe de Tiago, e Salomé, a fim de comprar unguentos para embalsamar o corpo de Cristo (Marcos, 16). João, 20, descreve Maria Madalena, sozinha, frente a frente a Jesus ressuscitado. Feliz, grita:"Rabôni!"(Mestre!), corre para abraçá-lo, ouve enigmática advertência: "Não me toques!" As igrejas católica, luterana e ortodoxa festejam-na Santa Maria Madalena.
Jesus, belo, afetuoso ao extremo, tocava, beijava e curava, parece mandar um recado à maldade e irreverência com o sagrado: "Não me toques, não me usem como produto comercial de ficção!"

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