terça-feira, 25 de dezembro de 2012

BITOROCARA





BITOROCARA

Carlos Said

O fundador de Bitorocara, o coronel Bernardo de Carvalho e Aguiar (Vila Pouca de Aguiar, Portugal, 1648 ? – São Bernardo, Maranhão, 1730), é o principal personagem do livrete histórico preparado e publicado pelo extraordinário Elmar Carvalho (José Elmar de Mélo Carvalho: Campo Maior, Piauí, 1956). Portanto, significativa dissertação concernente à colonização do Piauí. Atrasada porque só foi iniciada na segunda metade do século XVII (do interior para o litoral). Compensada porque uma legião de destemidos fazendeiros assentou as bases curraleiras na bacia hidrográfica parnaibana. E entre os intrépidos desbravadores, Bernardo de Carvalho e Aguiar.

Na tarefa pioneira do arrojado colonizador, justificamos sua bravura no conscientizar de que ele desejava a paz entre os gentios. Ao mesmo tempo, demonstrava o seu apego pelo trabalho honesto e honrado. Virtudes acreditadas como merecedoras de aprovação pelo governo português de Lisboa. Sem faltar as avaliações dos prepostos sediados no Brasil colonial. Ao chefiar a fundação da cidade de São Bernardo, interior do Maranhão, ganhou o respeito definitivo dos acompanhantes na incrível jornada colonizadora.

Não esqueçamos que Elmar Carvalho registrou o nome do importante historiador padre Cláudio Melo (Campo Maior, Piauí, 1932 – Teresina, Piauí, 1998) no afã de provar a existência do documento de 2 de março de 1697, assinado pelo padre Miguel de Carvalho (esteve no Piauí, em missão da Diocese de Pernambuco, ocasião em que escreveu o notável livro: Descrição Geral da Capitania do Piauí), considerando o português Bernardo de Carvalho e Aguiar, já apelidado de o “Marechal de Campo”, dono de conduta irreparável na conquista do território piauiense e de outros episódios que culminaram com a construção da Fazenda Bitorocara (topônimo interessante, resultante da variação: “Bito”, como leite de vaca, ajustada à desinência “Rocara”: meter a cara, isto é, entrar em algum lugar sem hesitação). Daí, acreditarmos em João Gabriel Baptista (Teresina, Piauí, 1920 – 2010), cidadão probo que não titubeou na afirmação sobre Bernardo de Carvalho e Aguiar: “Homem simples, prático e pacífico, quase lendário no vale do Parnaíba. (…) Cria e perde um império na zona Norte onde se situa o vale do Longá. Edifica com determinação o feudo da fazenda Bitorocara e perde quando sente a ingratidão dos poderosos. Ingratidão que se junta ao fato de que se insurgiu contra a brutalidade dos que faziam a “Casa da Torre” da Bahia, no trato com os indígenas. Bernardo de Carvalho não agia dessa forma”.

Havendo história, arte e fantasia em torno da Fazenda Bitorocara, retornamos ao autor do livrete que ressalta a figura de Bernardo de Carvalho e Aguiar. À procura da dolência cativante dos aboios, Elmar Carvalho articulou marcantes versos que a poeira e o vento jamais conseguiram apagar as pegadas e as marcas da colonização naquela paisagem do outrora Santo Antônio do Surubim:

O vaqueiro e o cavalo
se fundem e se confundem na desabalada
                                                    alada
carreira quase vôo
campeando gado pelos campos
                             de Campo Maior.

Mas é na peroração do poeta que encontramos o instante da protagonização dos “feitos” retumbantes de Bernardo de Carvalho e Aguiar, também apelidado “O Pacificador”:

Seu nome honrado
ainda vibra no ar,
nas cidades, nos currais
e nas igrejas que semeou.
Os dedos longos dos campanários ainda
apontam as etéreas campinas celestiais.
Da fazenda Bitorocara,
plantada nas margens do Surubim,
rebentou a cidade encantada
dos planos campos maiores,
dos carnaubais vastamente dilatados.
Valoroso na guerra,
amante e pacífico na paz,
seu braço guerreiro
curava e amparava
no final dos combates.
Por isto
sua bondade e justiça
os índios por justiça respeitavam.

2 comentários:

  1. Caro poeta e conterraneo Elmar Carvalho, estive passeando pelo seu blog, e tive a curiosidade de ler um chamado seu a respeito do seu livro " BERNARDO DE CARVALHO " e fui logo atraz do mesmo na Livraria Universitaria para comprar o mesmo, gostei muito principalmente porque fala da historia de nossa CAMPO MAIOR parabens pelo o escrito. Joao Antonio Aragao seu visinho na praça da bandeira.

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  2. Caro João Antônio,
    Fico satisfeito de que você tenha gostado do livrinho.
    O mérito maior foi do padre Cláudio Melo, nosso conterrâneo, que fez suas pesquisas em Lisboa, tendo se embasado nos documentos que fundamentam seu livro.
    Quis apenas resgatar a lembrança de um homem digno e ilustre, que estava injustamente esquecido.

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