segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Augúrios e agouros na passagem de ano



José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

Na passagem de ano, ligeiro sentimento mórbido toca-me o espírito e a imaginação, embora recheios de mesa, alegrias, abraços e congratulações. Mensagem do alto bate-me à porta avisando que o tempo ficou mais curto e fugaz por aqui. Como diz a canção: "O tempo passa e com ele caminhamos juntos, sem parar. Marcas do que se foi..."

Cada ano se esvai como a estação. Outro chega, alvissareiro, exigindo consertos e reparos. Por algum momento, é preciso fugir às luzes da ribalta, aos festejos e espumantes, recolher-se em silencioso recôndito. Saudável concentração, prece, agradecimentos ao Senhor da vida, a bênção e muitas lições. Augúrios, agouros, presságios, prognósticos, diagnósticos, filtrados ou dirimidos.

Ano novo sem se renovar, em vão festas mil e congratulações. O ano que se vai clamou por dias melhores, que se repetirão no outro que se descortina.

Ao convite do prefeito eleito, Jesualdo Cavalcanti, para sua posse em Corrente, respondi: "Nobre prefeito, parabéns pelo retorno ao poder. Admiro-lhe o talento e formação. Eu lhe cobro, porém, em nome de Deus e do Brasil, administração com honra e dedicação ao cargo, aos dons recebidos. Porque os talentos serão cobrados pelo severo tribunal divino, acredite nisso, se quiser. Porque o dos homens vale quanto pesa a grana por liminares espúrias. O Brasil clama por uma varredura moral. Comece por você, dando exemplo de dignidade. Os anjos dirão amém, e a sociedade o aplaudirá. Desculpe meu estilo de lealdade nas palavras." Parece recadinho de vovó pé de altar. Mas quanta valia! Se eu alcançasse milhares de prefeitos eleitos no Brasil, repetiria os mesmos augúrios. Infelizmente, perde-se a vergonha de proclamar o nome de Deus em momento tão delicado por que passa a nação. Principalmente para quem já perdeu a vergonha de ter vergonha.

Uma turma desalinhada com princípios do bem instalou-se na pirâmide social e só produz maus presságios: Fora a vergonha, "Deus é ópio do povo", fora o ensino religioso nas escolas. Manifestam desmoralizantes condutas com tibieza nos princípios éticos. Caras de pau, cinismo hediondo contra a dignidade nacional e ao patrimônio público. Quem se atreve à heroica coragem de João Batista, a denunciar, frente às narinas de Herodes, sem temer a degola?

Passagem de ano, festas, mesas fartas, rojões. Sem um momento de reflexão, propósitos de conserto, em vão as alegrias, tão fugazes quanto o tempo.

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