sábado, 27 de outubro de 2012

Esquizofrenia, paranoia ou espírito?




JOSÉ MARIA VASCONCELOS


Obsessão de culto ao corpo da civilização contemporânea repete a idolatria corporal do império romano. Lá, a prosperidade imperial transformou a Urbs (Roma) e metrópoles em centros de academias e piscinas térmicas de torneamento de corpos atléticos e beleza plástica. Predominava o espírito hedonista do prazer como bem supremo - acima da própria ética - para objetivo principal dos atos humanos. Mansões ostentavam o Vomitorium, espécie de banheiro para expelir excessos da comilança e bebedeira. Orgias, banquetes e festivais de crueldade e esportes. A média de idade hedonista não ultrapassava 50 anos. Adoravam-se deuses da força, das lutas marciais e do erotismo(Marte, Vênus e outros).

Do hedonismo romano à obsessão corporal de nosso tempo, quase nada mudou. Apenas sofisticou-se; a medicina virou um shopping de especialidades em prol do corpo e da mente. A "mens sana in corpore sano" imperial tenta todos os recursos de tonificar músculos, pele e "qualidade de vida". A indústria da saúde induz pessoas a buscarem especialista para qualquer manifestação esquisita no corpo ou na mente. Basta um espirro, pequena mancha, vômito, corre-se para a clínica, especialmente os beneficiários de planos de saúde. Todo dia, nomes novos, como VIROSE, infernizam até pessoas bem informadas. E lá se vão exames e mais exames, bulas e comprimidos intoxicando o organismo, endoidando a obsessão por vida sadia e longa.

A civilização hedonista só falta comer plástico, em defesa do corpo sadio e belo, numa estressante preocupação com a vida material. Pilhas de remédios, infelicidade familiar, alcoolismo, drogas e condutas reprováveis ao espírito do bem geram candidatos à esquizofrenia e paranoias.

Pessoas com esquizofrenia podem falar coisas que não fazem sentido, ficar sentadas por horas sem se mover ou falando muito pouco, ou podem parecer perfeitamente bem até dizer o que realmente estão pensando. Têm momentos de delírios e visões, com desordens de pensamento e conduta. A esquizofrenia ataca especialmente jovens.

A paranoia manifesta-se através do sentimento de intensa desconfiança persistente, humor exageradamente alegre, ideia de perseguição.

Em torno da esquizofrenia e paranoia gravita uma série de transtornos, cuja cura, muitas vezes, só encontrada no exercício do afeto, da generosidade, da oração libertadora, do perdão, da reconciliação. Tome-se, como exemplo, os expressivos resultados alcançados pela entidade dos Alcoólicos Anônimos. Sem foguetório, esses herois colocam a espiritualidade a serviço da cura e do bem. A certeza da presença maligna não pode ser colocada, de imediato, como motivo de tantas manifestações esquisitas, como transtorno bipolar, depressões em geral, transtorno de deficit de atenção, maníaco depressivo, transtorno obsessivo compulsivo(TOC).

A geração atual precisa desfrutar dos imensos benefícios da espiritualidade, sem exageros, sem sentimentalismo exacerbado, sem curandeirismo, sem obsessão maligna. Descobrir que somos filhos do Criador, fonte das bênçãos para a família, certos de que nada nos faltará, praticando virtudes da generosidade para com os mais humildes, do zelo pelo social, da honestidade para com a coisa pública, do respeito ao cônjuge, da educação espiritual e cultural dos filhos. Não só colocá-los em boas escolas e cursos, inclusive de práticas esportivas, mas catequizá-los em casa, amá-los com correção amigável, com exemplos de dignidade.

A obsessão moderna em busca do material, do sucesso financeiro e poder quase sempre desemboca no desfiladeiro da infelicidade, esquizofrenia, paranoias, às vezes, suicídio.

Séculos após a queda do império escravagista, pagão, hedonista, belicoso, colonialista e explorador, será que a moderna e evoluída sociedade ainda não descobriu que, ao lado das academias de culto ao corpo, não podem funcionar os templos da espiritualidade? O verdadeiro sentido da "mens sana in corpore sano"?

Nenhum comentário:

Postar um comentário