segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Comiam, Bebiam, Acasalavam-se


José Maria Vasconcelos
cronista, josemaria001@hotmail.com

Teria sido num dos badalados restaurantes da Zona Leste de Teresina onde li esses três verbos? Impossível, porque não se adequam a ambientes chiques e corretamente civilizados. Ou em anúncio de confraternização natalina, no glamuroso cabaré da Beth Cuscuz? Antes de lhe responder, repare o que alguns leitores manifestaram sobre o curioso título da crônica, NENHUM HOMEM PENETROU EM MIM.
"Que o título provocou urgência em ler logo, não tenho dúvidas. Essa foi de mestre!", de Aníbal Martins Machado, da Receita Federal. "Tudo que está entre frestas se faz apetitoso, então dispara o gatilho da curiosidade humana", Paulo Roberto Meireles. Professor Geovane Fernandes: "Eficiente estratégia de fisgar o leitor. Só para citar os mais festejados, temos o capítulo Das Negativas, de Machado de Assis, A Paixão Segundo G.H, de Clarice Lispector e Claro Enigma, de Drummond. Mas, assim como os citados, não só por isso, pois seu texto é de todo cativante, substancial." O radialista Alexandre Carvalho colocou: "Concordo com a analogia feita com relação ao mistério da maternidade de Maria..." O escritor Chico Castro: "O canto de Maria, logo após a anunciação, é uma das peças de maior relevância na literatura de todos os tempos..." Coronel Valdinar, por telefone, louvou a descoberta do tema. Antônio Carlos, docente de Teologia, em curso universitário de Fortaleza, teceu longo e profundo comentário, além de achar o título apelativo. Quando o leu, já sabia quem pronunciara. Professor Saraiva, também docente universitário, naquela capital, afirma que as alunas provocaram rebu com o uso da palavra PENETRAÇÃO. Rita Lúciae, lúcida de sinceridade: "No começo, a surpresa... Depois, ufa! o professor não é veado! kkkkkk."
Final de ano, festas em nome da confraternização humana, mas o abuso material, muitas vezes, ofusca o espiritual. Bares e restaurantes empanzinam-se de múltiplas panelas, receitas e cardápios. Famoso buffet de Santa Catarina prepara-se para o reveillon, cobrando por camarote 10 a 20 mil reais. Em Teresina, há uma explosão de riqueza multiplicando novos e luxuosos condomínios, quase dois mil veículos vendidos mensalmente. Nove pontes sobre o Poti não resolvem o tráfego.
A festa natalina do Messias transforma-se em consumismo exacerbado na figura de papai noel. Noel, em francês, traduz-se Natal. Não é uma irreverência ao Natal cristão? Não é diabólico?
Para se festejar sagrada confraternização, em nome do Filho de Deus, precisa esparramar-se em bebedeiras e festins pagãos? Não condeno a confraternização sadia, mas a irracionalidade tapando a reflexão sobre o sentido da presença de Cristo no mundo. Ora, toda civilização quando chega às extremidades do materialismo, da ganância, da sexualidade desenfreada, da degradação da família, da ausência do espiritual e virtudes, entra em decadência. Foi no império romano, egípcio, grego, francês. No Brasil, enquanto nobres do império refestelavam-se de comida e bebida na Ilha Fiscal, republicanos, na véspera, preparavam-lhes o bote final. Americanos e europeus compõem as últimas vítimas do capitalismo irracional.
Então, me vêm os três verbos da decadência moral previstos por Cristo: "Assim como no tempo de Noé, nos dias que precederam o dilúvio, comiam, bebiam e acasalavam-se...nada sabiam no momento em que veio o dilúvio." Não sou culpado de bater com os olhos nos capítulos 6 do Livro de Gênesis e 24 do evangelho de Mateus, adequados aos luzeiros festivos de final de ano, embevecido de gastanças mil. Porém, que tal escrevê-los na entrada dos restaurantes, lojas e departamentos, academias, bufês e mansões, até mesmo nas frontes de gestores insaciáveis de corrupção e burundanga?

2 comentários:

  1. Bravo, caro autor!
    Mais do que oportuna a sua crônica. Se Cristo estivesse entre nós de carne e osso seria bem capaz de usar o chicote novamente.

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  2. Boa oportunidade para declarar estas sábias palavras caro autor! O que vemos realmente mascarada com o adágio de Festivo Natal´nada mais é que fanfarronices, glutonarias, consumismo, e vale "quem tem mais"... a figura do verdadeiro aniversariante de há muitos e por muitos foi trocada pelo lendário velho Noel, que nada mais é que um engodo para o "vamos às compras"....
    por isso, sendo um sujeito esclarecido, mero espectador da sandice desenfreada da turba, penso e falo baixinho com meus botões: apague a vela e faça seu pedido JESUS !

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