quarta-feira, 28 de setembro de 2011

DIÁRIO INCONTÍNUO


28 de setembro

TUDO É RELATIVO, ATÉ A RELATIVIDADE

Elmar Carvalho


Embora avesso à matemática, gosto de ler matérias sobre a astrofísica e a física quântica, desde que apenas teóricas, sem cálculos. A matemática nunca foi meu forte; é meu fraco, no sentido mais literal da expressão, uma vez que “meu fraco” pode significar “uma queda”, uma simpatia, um interesse amoroso. Em vários poemas de minha autoria tenho feito alusões a essas questões especulativas e científicas, como quando disse que a matemática me enlouquecia, e que por isso meu pensamento saltava de mais infinito a menos infinito; quando disse que o infinitamente grande [da astrofísica] tendia ao tudo e que o infinitamente pequeno [da mecânica quântica] tendia ao nada, e que esses dois extremos se tocavam – em Deus. E assim poderia citar n exemplos de versos meus em que usei expressões extraídas da ciência, sem a mínima pretensão cientificista ou pedagógica.

Numa entrevista concedida à professora Teresinha Queiroz, e que foi publicada em meu livro Lira dos Cinqüentanos, cheguei a afirmar que o chamado princípio da incerteza era para mim o princípio da certeza da existência de Deus. Com isso eu estava e estou querendo dizer que onde a ciência apenas especula, onde ela não encontra certezas ou fundamentos para seus cálculos, comprovações e experiências, Deus guarda seus ases e coringas. Talvez seja o ponto onde Ele quebra suas próprias regras para atender às orações e súplicas, através de milagres; ou mesmo talvez sequer haja quebra de regras, mas simplesmente o que a ciência considera uma violação de suas leis faça parte das leis e dos planos de Deus. Ou – quem sabe? – o que os cientistas consideram leis pétreas sejam normas flexíveis e relativas perante o Todo Poderoso; quiçá essas supostas leis científicas possam ser flexibilizadas e relativizadas através da Fé e da oração, como no caso de milagres e fenômenos inexplicáveis pela ciência e pela lógica humana. Provavelmente por isso, Sócrates, em sua sabedoria, iluminação e humildade, tenha cunhado a frase de que uma coisa sabia, e que isso era que nada sabia.

Pelo princípio da incerteza, quanto mais um ponto é determinado, menos fica determinada a velocidade, e quanto mais esta é determinada, menos fica determinado aquele. Há também as especulações quânticas de que certas partículas ora se comportam como onda, ora como matéria. Tudo isso parece relativizar as certezas humanas, as verdades da ciência. Quanto mais são descobertos novos mistérios da astrofísica, mais novos mistérios surgem; quanto mais se entra na intimidade das subpartículas atômicas, mais surpresas aparecem, com comportamentos bizarros, surpreendentes, destas partículas, e com a possibilidade de descobertas de subpartículas cada vez menores e mais sutis, de matérias cada vez mais imateriais, se assim podemos dizer.

No sábado, fui abordado pelo poeta Francisco Miguel de Moura, exultante pela notícia que tivera de que uma das “leis pétreas” da Teoria da Relatividade teria sido quebrada, com a alegação de que o neutrino seria mais veloz do que a luz, cuja velocidade, no entendimento de Einstein, jamais poderia ser superada; que se isso acontecesse o próprio tempo “entraria em parafuso”, ao sofrer brutal distorção. Eu, que já não me espanto mais com nada, e que gosto da sabedoria dos ditados populares, de há muito sei que o pensamento é mais veloz que a luz e a eletricidade. Dessa forma, essa teoria também seria relativa, e jamais poderia ser uma verdade absoluta em todos os seus pressupostos e enunciados. Ou sua relatividade seria ainda mais relativa?

Se a nossa vontade e o nosso suporte físico, corporal, pudessem acompanhar o nosso pensamento e o nosso desejo de transcendência e infinito, seríamos muito mais velozes do que a luz. O cantor Roberto Carlos, na música O Portão, diz que abriu a porta devagar, mas deixou a luz entrar primeiro, para só depois adentrar sua casa, depois de um longo e tenebroso inverno de ausência, como o marido pródigo, retornando ao lar que abandonara. Desse modo, ele seria mais veloz do que o super-heroi Flash Gordon, que, na melhor das hipóteses, alcançaria a velocidade da luz. Para concluir, digo que não existem, a rigor, milagres nem mistérios; que milagres e mistérios talvez sejam apenas fatos, fenômenos e manifestações, cuja origem e explicação desconhecemos.

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