domingo, 22 de agosto de 2010

BERNARDO DE CARVALHO E AGUIAR E A VILA DA PARNAHIBA

Vicente de Paula Araújo Silva - “Potência”


Capa do livro do historiador Pe. Cláudio Melo sobre Bernardo de Carvalho e Aguiar

Nasceu em Vila Pouca de Aguiar (Portugal), filho do nobre Antonio Silvestre de Aguiar e faleceu em 1730, em São Bernardo (MA). Ao chegar ao Brasil, domiciliou-se na Bahia, onde constituiu família casando com Dona Mariana da Silva, com a qual, teve os filhos Miguel de Carvalho Aguiar e Dona Antônia Aguiar, que se casou com o Sargento-Mor, Manuel Xavier. Iniciou suas atividades militares em meados de 1690, por intermédio de José Garcia da Paz, que havia recebido de Dom Frei Manuel da Conceição, Bispo de Pernambuco, governador interino da Capitania de Pernambuco, a missão de combater os Percatís, que estavam provocando danos e desassossegos aos moradores do sertão das Rodelas. Ali, em lutas sua bravura destacou-se.
Ainda no verão de 1690, aventureiros lusitanos, pernambucanos e baianos, passaram a ocupar os vales oriental e ocidental da Ibiapaba, onde missionários jesuítas haviam pacificado os índios. Então, os Crateús, sentindo-se oprimidos pela invasão colonizadora, fizeram fortes ataques a esses curraleiros, que atemorizados pediram socorro ao Governo do Brasil.
Diante desse fato, Iniciou-se então, a participação do Capitão Bernardo de Carvalho e Aguiar na região , que chegou ao campo de operação, vindo pelo sertão das Cajazeiras, conseguindo a pacificação daqueles selvícolas, possibilitando o aldeamento dos mesmos pelos padres da Companhia de Jesus. Daí, veio o seu prestígio junto aos selvícolas da região, pois sabiam que ele não usava a prática da época em que era permitida a escravização e venda de presas de guerra. O seu intuito, era afastar o gentio das proximidades das fazendas ocupadas pelos curraleiros lusitanos, baianos e pernambucanos. Vendo reais possibilidades de ganhos econômicos, resolveu também criar currais de gado . Assim, instalou-se inicialmente, em cabeça do Tapuio (São Miguel do Tapuio), de onde seguiu em 1694 para o lugar onde hoje é a cidade de Campo Maior e posteriormente para São Bernardo (MA). É considerado o fundador dessas cidades.
Em 1696, morava na Faz. Bitorocara, no rio do mesmo nome, com 04 negros, quando recebeu a patente de Cap. mor de infantaria da Ordenança do distrito da Cachoeira – BA. Mais tarde, foi elevado a patente de Coronel do mesmo regimento. Ao se instalar em Bitorocara, convidou no ano de 1696, o missionário jesuíta Pe. Ascenço Gago, para fundar no lugar,uma missão jesuíta, a qual foi instalada no final daquele ano.
Antonio da Cunha Souto Maior, comandante da Campanha anti-indígena do Governo do Maranhão,em 1708, com a Patente de 1º Mestre de Campo do Piauí, pediu a colaboração de Bernardo Carvalho, e nas suas terras fez o seu acampamento, onde o mercedário Frei Manuel de Jesus e Maria, passou a ser o responsável pela implantação da fé cristã. Após esse fato, o então Coronel, Bernardo de Carvalho, desvinculou-se da hierarquia pernambucana, ficando a serviço do Maranhão. Após, quatro anos de atividades desastrosas junto aos índios que lhe eram fiéis e desentendimentos com o seu irmão então Capitão-Mor, Antonio da Cunha Souto Maior, o primeiro Mestre de Campo do Piauí, foi assassinado por aldeados, incitados por Mandu Ladino, em 12 de julho de 1712. O Capitão-Mor, seu próprio irmão, foi denunciado como principal suspeito pelo mando.
Após o assassinato de Antonio da Cunha Souto Maior, a revolta dos índios espalhou-se na região, então os fazendeiros do norte em reunião, redigiram um abaixo assinado indicando o Coronel Bernardo de Carvalho e Aguiar, para substituir o sinistrado, ato aprovado pelo governador do Maranhão, Cristóvão da Costa Freire , em 30 de dezembro de 1712, com a assinatura de sua Carta Patente como Mestre de Campo.
Entretanto, em 20 de setembro daquele ano, antes de receber a Carta Patente, iniciou as operações de combate ao gentio rebelado. Depois da caça aos anacês em fuga e de muitas escaramuças com prisões, mortes e recuperação de bens seqüestrados de curraleiros, já retornando da área da Ibiapaba, chegou a ribeira do rio Piracuruca , onde teve notícias de que os índios Araíós e Anapurus, haviam atacado a chamada Vila da Parnaíba, capitaneada na época por João Gomes do Rego Barros.
Então, reunindo a sua tropa disponível e reanimando-a das canseiras das lutas travadas, rumou para a povoação atacada, com a finalidade de socorrer os parnaibanos aflitos. A respeito dessa empreitada, o padre franciscano Frei Lino Demescent , se referiu ao Mestre de Campo, escrevendo o trecho a seguir – doc.13/01/715 : “ E vendo a desolação que nos tinha feito o gentio, pelos seus repetidos incursos e cercos, matando-nos alguns homens e quantidade de cavalos e eguas, roubando a seu Missionário, profanando a Igreja e, com uma sacrílega temeridade, cortando as narinas dos santos, se resolveu, com todo o rigor do tempo, a mandar, como o fez, uma bandeira escolhida de sua tropa, me escolhendo por Capitão dela. Partindo aos 8 de dezembro”.
Logo depois do envio desse aparato militar, o experiente Mestre das Conquistas, seguiu com outros comandados e juntando a tropa sob seu comando, avançou ao confronto com os sublevados, resultando positivamente a sua ação..
Após o resgate da vila, o Mestre de Campo teimava em perseguir os nativos, no delta do Parnaíba, mas atendendo a conselhos de colaboradores, optou em enviar uma proposta de paz aos índios , que responderam nada quererem com os brancos, mas sim viverem nas suas terras, sem o nosso comércio. Pediram apenas um sacerdote para morar com eles e lhes administrar o sacramento. Os moradores da vila, acharam viável a posição dos mesmos e assim, Frei Lino Demescent, ficou com eles durante um ano, quando curraleiros da região da Parnaíba e do Ceará, não se contentando com índios livres próximos a eles, forçaram a saída do mentor espiritual cristão, encerrando o primeiro aldeamento no delta parnaibano. Após 11 anos desse fato, esses selvícolas foram aldeados por missionários jesuítas, sob custódia maranhense, fato que resultou na perda da maior parte deltense do rio Parnaíba para o estado do Maranhão.
Sabe-se que apenas uma ordem superior não foi cumprida prontamente pelo arrojado militar. É que a mando da metrópole, se fazia necessária a prisão dos proprietários do sítio Buriti dos Lopes, por questão que envolvia a invasão dos mesmos às terras dos índios Tremembés. Talvez pela amizade e respeito a família pelo fato de ser lusitana como ele, essa missão não foi cumprida. Posteriormente, um membro dessa família – Antonio de Oliveira Lopes – solicitou a confirmação no posto de Sargento-Mor da Vila de Nossa Senhora de Monserrate da Parnaíba, em substituição ao português Manuel Peres Ribeiro, ato consumado em 07 de maio de 1724.
Tudo isso, é estória que tem a ver com a história da Parnaíba.

DA SÉRIE:
ESTÓRIAS A RESPEITO DA HISTÓRIA DA PARNAÍBA

2 comentários:

  1. Com todo respeito ao Sr. Juiz e poeta Dr. Elmar Carvalho faz-se necessário lembrar que ao se estabelecer os limites das capitanias do Piauí e Maranhão foi dado como linha divisória o rio Parnaíba, sendo sua foz na Ilha das Canárias. Por isso não ficou pertencendo ao Piauí a grande parte do Delta. Num livro com esse assunto é interessante a citação das fontes de pesquisas ao lado das referências escritas.

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  2. Sr. Marques,
    A conjectura, na verdade, é do padre Cláudio Melo, e não minha, quando ele consignou (página 34 de seu livro Bernardo de Carvalho, edição de 1988): "Isto resultou que o Piauí perdeu o direito ao delta parnaibano que, sem dúvida nenhuma seria nosso se a aldeia tivesse continuado sob a administração do Capitão Mor da Parnaíba". Entretanto, considero como uma ilação muito lógica o que o grande historiador concluiu.

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