quarta-feira, 19 de maio de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO

Elmar Carvalho


19 de maio

DUAS TIRADAS DE A. TITO FILHO

Pelos misteriosos mecanismos da memória, a lembrança de A. Tito Filho me acudiu hoje com muita insistência. Tinha com ele certa amizade, e ele me tinha consideração e respeito intelectual. Tanto que, espontaneamente, me pediu organizasse um livro para ele publicar. Entreguei-lhe o A Rosa dos Ventos Gerais, no início dos anos 1990, mas com a sua morte, em 1992, não pode cumprir a promessa. Falei desse caso ao professor M. Paulo Nunes, que assumira a presidência da APL, e ele submeteu o calhamaço ao Conselho Editorial da entidade, e, sob a relatoria do professor Wilson Andrade Brandão, a publicação foi aprovada e o livro terminou vindo a lume através da Editora da UFPI. Depois, esse livro foi reeditado com a supressão do artigo definido de seu título. Certa feita, encontrei A. Tito Filho perto dos elevadores do prédio da Delegacia do Ministério da Fazenda. Aproveitei para lhe perguntar sobre o modismo, que então começava, de não mais se chamar mulher de poetisa, mas de poeta. Ele disse não concordar com isso, e respondeu-me que, da mesma forma, não deveria existir a palavra mulher, mas “a homem”, nem princesa, porém “a príncipe”. Não foram exatamente essas as palavras, mas algo semelhante, no mesmo sentido. Isso foi dito com a sua saudável e bem-humorada ironia. Eu também não entendia essa mudança gramatical, contudo, para não ser tachado de antiquado e nem de machista, assimilei essa espécie de neologismo, vamos dizer assim. Noutra ocasião, estava eu na Academia, que já frequentava com relativa assiduidade, quando um intelectual, algo ingenuamente, perguntou ao mestre se a pronúncia de determinada palavra deveria ser "naiscimento" ou nascimento. O velho professor lhe respondeu com outra pergunta: - Fulano, existe um i entre o a e o s? O outro lhe respondeu, como não poderia ser diferente, que não. A. Tito Filho, incontinenti, arrematou: - Então, Fulano, a pronúncia é nascimento. A. Tito Filho, entre seus pares, foi o primeiro a me acenar com a imortalidade acadêmica. Certamente nesse aceno falou mais forte o seu coração generoso e a sua amizade, no intuito de estimular um ainda jovem poeta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário