sexta-feira, 12 de março de 2010

MONS. CHAVES – UM ÍCONE DA HISTORIOGRAFIA PIAUIENSE




Elmar Carvalho

Um grande esquecido por Campo Maior, sua terra natal, terra por ele muito amada, é o notável historiador e sacerdote Monsenhor Chaves, que foi um grande educador de nosso Estado. Membro da Academia Piauiense de Letras, tem o respeito dos historiadores piauiense pela profundidade e honestidade de suas pesquisas.Em Teresina – Subsídios para a história do Piauí não apenas traçou a memória histórica dessa capital, mas discorreu sobre seus primeiros edifícios públicos, suas festas antigas, sobre a instrução primária e secundária, posturas municipais, vida cultural e religiosa, sobre seu comércio e suas ruas, episódios importantes da cidade e do Estado, além de seus aspectos pitorescos. Em sua visão de vanguarda da História, foi um dos primeiros a inserir os vencidos e os humildes em nossa historiografia, quando concebeu o livro O índio no solo piauiense e ao registrar a participação dos escravos, vaqueiros e roceiros, inclusive tendo o seu livro Apontamentos biográficos e outros, em que traça a biografia de ilustres piauienses, um capítulo exclusivamente dedicado aos vaqueiros e roceiros, já alertando que a história é construída por todo o povo e não apenas pelos vencedores e pelos chamados grandes homens. Foi ele o maior divulgador e estudioso da Batalha do Jenipapo, tanto no opúsculo Campo Maior e a Independência – a Batalha do Jenipapo, que faz parte de seus Cadernos Históricos, em que fala nos antecedentes da batalha, na Batalha do Jenipapo e no que se lhe seguiu, como, principalmente, no livro O Piauí nas lutas da Independência do Brasil, onde discorre com autoridade e conhecimento de causa sobre a guerra de Fidié e especialmente sobre essa célebre batalha, talvez a mais importante e a mais sangrenta página da Independência do Brasil, injustamente negligenciada pelos grandes historiadores nacionais. Nos Cadernos Históricos o nosso historiador trata, além da batalha, da história de Teresina, da escravidão no Piauí, de nossa participação na Guerra do Paraguai e da evangelização no Piauí. Trago a colação o que dele disse Teresinha Queiroz, mestra e doutora em História, uma das mais respeitadas e acatadas vozes da historiografia e do magistério piauiense:

“Quando, no início da década de cinqüenta, Padre Chaves começou a produzir sua obra, ela já vinha revestida de um novo sabor, que lhe conferia não só leveza e graça, como abria novas possibilidades para a compreensão da história de Teresina e do Estado. Ela anunciava uma outra forma de registro dos eventos históricos, alargando esse registro para a inclusão das classes subalternas. Vinham à cena, em Teresina – Subsídios para a história do Piauí e logo mais em O índio no solo piauiense, na vivência de seus dramas cotidianos – os pobres, as mulheres, as crianças, os escravos, os trabalhadores urbanos, os índios subjugados e esquecidos. Mais adiante, já historiador maduro e experimentado, os vaqueiros, os roceiros e outros segmentos da invisível arraia-miúda dos rincões nortistas do Brasil seriam exibidos nas cenas epopéicas de que foram arautos.”

De Camões diz-se não apenas amou tanto sua pátria que, não se contentou em apenas nela morrer, mas quis morrer com ela; de padre Chaves direi que amou tanto a Batalha do Jenipapo que deseja ser sepultado no lugar que lhe serviu de cenário, ao mandar fazer o seu túmulo junto às campas rasas onde jazem os heróis humildes que ele tanto exaltou, pelo extremado de seu heroísmo e sacrifício, sem recompensa, e que não visavam à conquista de riquezas e metais.

Monsenhor Chaves já recebeu, com justiça, muitas homenagens de Teresina, que não é a sua terra natal. Lá existe a Fundação Cultural Monsenhor Chaves, criada pelo professor Wall Ferraz, que já lhe editou a obra completa, por mais de duas vezes. Sua memória é reverenciada por instituições e professores de História. Mas Campo Maior ainda não lhe tributou as merecidas homenagens. Algum hipócrita poderá dizer que ele ainda está vivo. Mas a esse sacripanta responderei com Nelson Cavaquinho e Guilherme Brito:

... Por isso é que eu penso assim
se alguém quiser fazer por mim
que faça agora

me dê as flores em vida
o carinho, a mão amiga
para aliviar meus ais
depois que eu me chamar saudade
não preciso de vaidade
quero preces e nada mais.

Padre Chaves não precisa nem de vaidade nem de homenagens. Vive recolhido em sua humildade e mergulhado no silêncio. Campo Maior é que precisa homenageá-lo, para não receber a pecha de cidade ingrata e sem memória. Aliás, quando quiseram homenagear o excelso poeta Manoel Bandeira, perguntaram-lhe se ele não se incomodava pelo fato de recebê-la em vida, ao que ele respondeu que não, que até se recusava a morrer enquanto não lhe fosse outorgada a honraria. Campomaiorenses, homenageemos, pois, o querido padre Chaves, que de qualquer maneira, mesmo contra a sua vontade, vai permanecer imortal, através de seus livros.

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