segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO



22 de fevereiro de 2010

Na reunião da APL, deste sábado, o acadêmico Humberto Guimarães, que é médico psiquiatra, ao usar da palavra, informou que em breves dias o sanatório Meduna será desativado. Lamentou profundamente o fato. A memória de seu criador, o médico e acadêmico, já falecido, Clidenor Freitas Santos, foi festejada vivamente na sessão. Consta que quando ele retornou, formado, a Teresina, libertou os loucos das correntes e de outros tratamentos desumanos. As correntes estariam enferrujando no fundo do Parnaíba. O nome Meduna foi dado em homenagem a um grande psiquiatra nascido na Hungria. O sanatório é uma bela construção, com seus pavilhões brancos, seus alpendres, seus corredores. Fica no centro de um aprazível bosque. Até parece uma aldeia, onde ainda alvejam a casa senhoril e a capelinha branca, sobre suave colina, que compõem o aspecto bucólico do conjunto. Foi uma obra audaciosa para a época, e mesmo nos dias de hoje ainda seria. Clidenor, quando o conheci, era um velho de boa estatura, ereto, empinado, elegante, inclusive no modo como se vestia. Usava uma velha Mercedes, em perfeito estado, tão elegante quanto ele. Admirava música erudita, sobretudo Mozart, Bach e Beethoven. Fez seus filhos ouvirem esses grandes compositores, para lhes incutir, desde cedo, o gosto por essa divina arte. Tornou-se empresário do ramo da agroindústria, especialmente de álcool combustível. Admirador entusiástico de Cervantes, mormente de sua criatura, o fidalgo, cavaleiro e idealista Dom Quixote de la Mancha. Possuía vários exemplares do livro que narrava suas aventuras, e presenteava amigos com exemplares dessa obra por ele considerada genial. Diria que o Dr. Clidenor era também uma espécie de Quixote, tanto na política como nos seus empreendimentos empresariais, pelo seu idealismo e certo romantismo de sua postura. Segundo dizem aqueles que a conheceram, a sua biblioteca seria, talvez, a maior biblioteca particular do Piauí, não só em quantidade de livros, mas também pela excelência e raridade de muitas obras. Era uma figura carismática, a pregar o belo e o bem, com entusiasmo e convicção. Ele, que foi quixotesco no bom sentido da palavra, ergueu uma belíssima estátua do “cavaleiro da triste figura” nos portais de sua realização máxima, o sanatório Meduna, que, agora, lamentavelmente será desativado. Mas Dom Quixote, a cavalgar o Rocinante, com a sua lança e o seu escudo, talvez consiga defender essa obra meritória, que relevantes serviços prestou ao estado.

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