sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

ARTE-FATOS ONÍRICOS


NUVENS NA SALA

Certo dia, ao entrar em minha casa, lá estavam elas, várias nuvens espalhadas pela sala, a uma altura situada entre noventa centímetros e um metro e trinta centímetros. Eu as via do alto de meu um metro e oitenta centímetros de altura. Eram miríades de miniaturas de nuvens, e pareciam com as que costumamos ver quando o avião atinge sua altura máxima e olhamos para baixo. Embora fosse um acontecimento inusitado, a visão daquele rebanho de nuvens, não fiquei assombrado. Antes, procurei encarar o fenômeno com naturalidade. Passei a analisar o caso com objetividade e com a postura que um cientista deveria adotar. O que mais me causou admiração foi poder enxergá-las, pois sendo as nuvens compostas de vapor d'água ou gotículas, eu não deveria vê-las, mas, no máximo, senti-las pelo tato, ao contato com a pele. Pelo menos era isso que a minha pretensa racionalidade indicava. Mas o fato é que lá estavam elas, como um manto de algodão alvíssimo estendido sobre a sala. Depois dessa atitude analítica, sentei-me no chão, e deitei-me, para vê-las de baixo para cima. E as vi como um céu estendido sobre mim: as nuvens e acima delas um azul celeste. Pensei: ora, bolas, só me faltava esta; só me falta agora um céu estrelado. Eram dezessete horas, e resolvi dormir ali mesmo, sobre umas almofadas que havia. Quando acordei, um céu resplandecente de pequeninas estrelas se desatava sobre mim, como o pálio do poeta, e, caprichosamente desenhados, eu via o sete-estrelo, o cruzeiro do sul, as três-marias e o caminho de santiago. Novamente pensei: agora só resta chover. Não deu outra. O céu começou a ficar nublado. As estrelas sumiram na noite densa, e uma chuva começou a cair sobre mim. Saí às pressas para o meu quarto, onde me enxuguei. Procurei não pensar no caso, e dormi. No dia seguinte, com grande alívio, não mais encontrei as nuvens em minha sala.

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