terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

DIÁRIO INCONTÍNUO


9 de fevereiro de 2010

Nesta madrugada sonhei que participava de um encontro de literatos, sobretudo poetas. Só gravei do sonho o momento em que o poeta Rubervam Du Nascimento discursava. Não recordo suas palavras. Eu o via em carne e osso, mas era como se o visse através de um televisor. Meus olhos pareciam ter uma espécie de zoom, pois o seu rosto parecia estar enquadrado em um close, de modo que não lhe via o restante do corpo. Conheço-o desde os idos de 1978, quando ambos éramos colaboradores da página literária coordenada pelo vate Menezes y Moraes, e quando houve uma forte interação cultural entre poetas teresinenses e parnaibanos. Nessa época existiu uma forte aproximação literária entre as duas cidades. Poetas da capital e litorâneos fizeram parte das mesmas antologias e coletâneas. Foram partícipes dos mesmos eventos literários. Certa vez, Rubervam foi a Parnaíba a serviço de sua repartição. Fui visitá-lo no hotel em que se hospedou. Trouxera uma pequena máquina de escrever portátil, e com todo o entusiasmo de sua juventude produziu alguns poemas no apartamento. Depois, ao longo da vida, mantivemos a amizade, mas nunca nos frequentamos com assiduidade. Contudo, sempre mantivemos uma admiração e fraternidade recíprocas. Quando nos encontramos, casualmente ou não, a conversa flui com muito entusiasmo e alegria. Embora não tenha ele se transformado num ermitão, tornou-se um tanto arredio a certas instituições e confrarias, sobretudo as de elogio recíproco e as de caráter corporativista. O poeta nunca aceitou e nunca fez concessões espúrias. Sempre manteve a sua postura um tanto reservada e arredia, embora seja cordial e de fácil convívio. Manteve sempre a sua linha poética, comprometida com o novo e com a pesquisa, buscando sempre as soluções inventivas, e não as de fácil apelo ao gosto popular. Mantém-se íntegro e fiel a si mesmo. Ganhou dois importantes prêmios literários nacionais, com dois de seus livros, mas, ao que parece, nunca fez questão de divulgá-los na província. Casado, há muitos anos, com a poeta Carmen Gonzalez, que oficia na sua mesma linhagem poética, que busca a síntese, o inusitado e a inventividade. Seguindo na contramão do usual, publica seu principal livro, A Profissão dos Peixes, a cada cinco anos, em edição revista e diminuída, de modo que essa obra se torna cada vez mais magra, como se passasse por radical lipoaspiração literária. Num paroxismo, poderíamos dizer que o poeta poderia alcançar a síntese ou o símbolo do peixe, que seria talvez a sua espinha, ou seu fóssil estampado em alguma pedra multimilenar.

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