sábado, 27 de abril de 2024

PEQUENA HISTÓRIA DA FESTA DO DIVINO DE AMARANTE





PEQUENA HISTÓRIA DA FESTA DO DIVINO DE AMARANTE


Marcelino Barroso [1]


A Igreja Católica celebra o Dia de Pentecostes no 50º dia depois da Páscoa, uma das mais importantes festas móveis do calendário litúrgico, também chamada Festa do Divino. Tendo começado em Portugal, no Século XIV, essa devoção se espalhou pelas colônias portuguesas e pelo mundo ibérico, e, atualmente, pode considerar-se como uma festa universal das mais ricas em simbologia. Em várias partes do mundo, as comemorações são feitas com grande pompa e/ou com manifestações populares, antecedidas de peregrinações ou peditórios.

Variadas são as manifestações religiosas alusivas ao Dia de Pentecostes, de Norte a Sul do Brasil. No Piauí, algumas cidades, como Oeiras, Valença, Simplício Mendes e Amarante, mantiveram, por longos anos, a tradição das Cantorias, por longos dias, arrecadando esmolas. Um grupo de homens percorria os povoados, carregando a Pomba e a Bandeira do Divino, entoando versos ao som de tambor, rabeca e viola. Nos últimos anos, a Festa do Divino de Amarante tem influenciado as das cidades de Regeneração, Valença, Floriano, Palmeirais, Agricolândia e, quiçá, Oeiras, devido à beleza das celebrações nos bairros e na Igreja Matriz

Até mesmo no Hino de Amarante (letra de Mons. Isaac José Vilarinho e música do maestro Luís Santos), faz-se referência ao “Tambor do Divino”, mantendo viva a memória de grupos tradicionais como os Divinos de Seu Manoel Paulo e de Seu Agostinho Felipe, que encorajaram o surgimento de novos mestres divineiros, hoje reconhecidos nos exemplos dos Divinos de Seu Odilon, de Seu Airton, de Dona Maria Peruca, bem como daqueles grupos que já vieram à nossa cidade, como os Divinos de Seu Eduardo (São Francisco do Maranhão); de Dona Joana (Demerval Lobão-PI), e as Pastorinhas do Divino de Dona Francisca (Floriano). Além desses grupos tradicionais, é de justiça lembrar os grandes mestres cantadores, rabequeiros ou caixeiros, como Benedito França, Do Carmo, Gonçalo Basílio, Júlio Basílio, Manoel do Basílio e Zeca Tatuzinho, bem como as famosas “segundeiras” (segunda voz), destacando-se, ultimamente, Dona Maria e Dona Da Guia.

Em Amarante, a Festa se caracterizou também, desde o início do Século (há registros de 1907), como encargo de famílias de operários. A descendência de uma dessas famílias tem garantido a continuidade da promessa, mas, nos últimos anos, a Festa ganhou maior expressão e vem atraindo pessoas de várias localidades, especialmente pela beleza das procissões e do Tríduo Preparatório, bem assim pelo fervor expressado na Missa Solene de Pentecostes, tudo com acompanhamento de cantoria, de grupos orquestrais, de corais e de representações das diversas associações e movimentos religiosos da Paróquia. Esse conjunto mais expressivo das celebrações se consagrou com a designação de Divino da Vila Nova ou, mais afetivamente, como Divino de Dona Dedé, em homenagem à sua fundadora, Josefa Pereira de Araújo, conhecida carinhosamente como Mãe Dedé, que intensificou sua prática devocional a partir de 1954, ou seja, há exatos 70 anos.

O Tríduo Preparatório, que era realizado em ambiente doméstico e em círculo restrito às pessoas mais próximas, passou a desenvolver-se com procissões luminosas, em cujo trajeto é recitada a Coroa do Divino, com paradas estratégicas em algumas residências, até se completarem os Sete Mistérios. Escolhem-se três responsáveis, em cujas residências se dá o pernoite da Pomba e da Bandeira, cada família ficando responsável pelo cortejo do dia seguinte. Tal esquema foi afetado pela pandemia de Covid-19, mas deverá ser retomado em breve. A partir de 2012, o Pe. Tertuliano Alves mandou incluir, na programação, a Missa da Vigília de Pentecostes, encerrando a terceira noite do Tríduo. No quarto e último dia, o Terço de Encerramento da Festa reúne muitas famílias da Vila Nova e de outros bairros da cidade, após o que se distribuem bolo, café e chocolate quente.

Vários pesquisadores têm estudado a Festa do Divino de Amarante, sobretudo tornando-a objeto de trabalhos de conclusão de cursos de graduação e de pós-graduação em várias Instituições de ensino, públicas e privadas. Têm sido, também, publicados artigos, reportagens e documentários nos mais diversos meios de comunicação.

Desde o início dos anos 1940 até sua morte, em 1984, Josefa Pereira de Araújo (Mãe Dedé) se desdobrou para dar continuidade à Festa do Divino e emprestar-lhe feição de festa para os pobres. Pouco antes de falecer, pediu aos atuais festeiros que não deixassem o povo da Vila Nova esquecer essa devoção, que atesta a importância da preservação das tradições da cidade e da valorização das manifestações religiosas de seu povo.

A Festa do Divino de Amarante, diferentemente das de Oeiras ou Valença, tem permanecido com a mesma família, mas, nos últimos anos, outras pessoas e até grupos da comunidade passaram a colaborar da organização com maior interesse. Assim, entre esses voluntários, crianças, jovens e adultos passaram a postular maior participação como figurantes, nos cortejos e solenidades, além de assumirem outros encargos artísticos ou operacionais.

Finalmente, deve ser ressaltado o apoio que a Festa do Divino de Amarante tem recebido de todos os párocos, desde a introdução dos novos eventos, a partir de 2003, os quais são citados na ordem de seu exercício ministerial na cidade: Pe. Sebastião Gonçalves da Silveira, Pe. Raimundo Nonato dos Santos, Pe. Raimundo Nonato do Rêgo Neto, Pe. Tertuliano Alves de Melo e Pe. Francisco Ronaldo Santos Sousa.

Como tudo que o ser o humano faz é imperfeito, pode ter sido omitido algum dado, fato ou indicação relevante para uma pequena história do Divino de Dona Dedé, mas, felizmente, nada passa despercebido aos olhos de Deus. Por isso é que algum grupo, instituição ou pessoa que não tiver sido citado deve ficar ciente de que seu lugar está preservado no panteão da glória eterna e recebe, neste momento, o certificado de nossa eterna gratidão, sob o influxo dos dons e dos frutos do Divino Espírito Santo.

Assim seja!



[1] Marcelino Barroso divide com a Professora Mundinha Costa a coordenação da Festa do Divino da Vila Nova, desde 1984. Texto lido pelo Prof. Melquíades Barroso na cerimônia de Envio das Bandeiras às Comunidades Eclesiais da Paróquia, realizada no dia 14/04/2024, na Igreja Matriz de São Gonçalo do Amarante, em Amarante-PI.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

O SONHO DE LAURO: A FERROVIA, O RIO E O PORTO

 


O SONHO DE LAURO: A FERROVIA, O RIO E O PORTO


Elmar Carvalho

 

Neste domingo, acompanhado do Canindé Correia, seu sobrinho, fui visitar o Dr. Lauro Andrade Correia. Neste Diário já tive ocasião de escrever nota sobre a sua profícua vida de labor e dedicação aos estudos. Entregou-me um exemplar do Jornal do Advogado, no qual foi publicado o texto Um Mestre Inesquecível, em que lhe presto sincera homenagem, e o artigo Pela Grandeza e Beleza de Amarante, da autoria do insigne mestre.

 

Falou de suas causas e lutas com energia e entusiasmo, parecendo um garoto, em seus 86 anos de idade. Ao longo de algumas décadas, tenho acompanhado a vida laboriosa de Lauro Correia, e o considero um grande paladino das lutas em prol da preservação do Rio Parnaíba, da implantação do porto de Luís Correia e da construção da ferrovia Transpiauí, que se estenderia de Eliseu Martins a Luís Correia, desde os tempos em que ele presidiu a FIEPI e foi diretor do Campus Ministro Reis Velloso e do SESI-PI. Defendeu essas causas nos vários encontros e audiências públicas de que participou e em mais de meia centena de artigos e pequenos ensaios que escreveu, alguns dos quais enfeixados em plaquetas.

 

O Piauí parece estar navegando contra as correntes e os ventos da lógica econômica e administrativa. Essas duas vias – a fluvial e a ferroviária – que tem numa extremidade os cerrados piauienses, com a sua avantajada produção de soja e outros grão, e na outra, o futuro porto marítimo de nosso estado, sem dúvida barateariam o transporte desses produtos, dando-lhes maior competitividade em relação a outros centros produtores. O rio Parnaíba, como todo mundo sabe, vem se esvaindo em lenta agonia. Meu pai, em 1940, no colégio Diocesano, ouviu o acadêmico e professor de Geografia, Álvaro Ferreira, dizer que se providências não fossem tomadas esse grande rio morreria em cinquenta anos.

 

Felizmente, essa triste profecia ainda não se cumpriu inteiramente, mas as inúmeras coroas de areia, a largura imensa do Parnaíba em vários pontos e o seu pequeno calado em muitos trechos são provas de que ele caminha no rumo de um melancólico e indesejável ocaso. Dr. Lauro Correia, engenheiro e advogado, tem estudado o nosso maior rio, sob os mais diferentes aspectos, em profundidade, e apontado as soluções. Mas é quase uma voz clamando no deserto da insensibilidade, descaso e incompreensões, porquanto entra governo e sai governo e nenhuma medida séria e enérgica foi tomada até agora para impedir a inexorável degradação desse curso d' água cantado e louvado por vários poetas, mormente o grande Da Costa e Silva.

 

Entretanto, com pesar o digo, medidas sérias estão sendo adotadas, mas para apressar o seu fim: a construção de cinco barragens, que segundo Lauro Correia e outros estudiosos impedirão a navegabilidade e contribuirão de forma acentuada para a degradação do rio e do meio ambiente. Uma das barragens ameaça de forma assustadora a bela, bucólica e histórica cidade de Amarante, pois inundaria parte dela e atingiria alguns de seus vetustos e memoriais solares. Segundo Lauro Correia, com a construção das barragens, o volume d' água vai diminuir, o que trará consequências catastróficas ao ecossistema.

 

Além das óbvias, um desses efeitos danosos seria a salinização do Delta do Parnaíba, pois a força das marés passaria a exercer maior influência sobre o rio, tornando mais salobras suas águas, podendo chegar a comprometer o atual sistema de abastecimento de Parnaíba, hoje localizado em Rosápolis, perto de onde pesquei e banhei diversas vezes, em minha juventude.

 

Nada justificaria a construção dessas barragens; além dos enormes prejuízos que elas causariam ao Parnaíba, cada uma delas produziria apenas 60 megawatts, que seriam supridos, com inúmeras vantagens, por usinas eólicas, a serem construídas no litoral piauiense e no município de Paulistana.

 

Urge, pois, que essas vozes que clamam no deserto, e entre elas a de Lauro Correia, esse Quixote, não da Mancha, mas do Delta Parnaibano, sejam finalmente ouvidas e acatadas, e que as providências cabíveis e necessárias sejam adotadas, sem titubeios e delongas.

28 de julho de 2010

domingo, 21 de abril de 2024

FLAGRANTES DE BELÉM

 

Fonte: Google

FLAGRANTES DE BELÉM

 

Elmar Carvalho


              (Reconstituição minimal

               de um poema perdido.)

 

No lusco-fusco da chuva

intermitente de Belém

um guarda impaciente

envolto na capa e na solidão

aguarda um outro

guarda que não vem

para o ato de rendição.

 

Um impudente

fauno de pedra de pé mijava.

Uma imprudente

ninfa de cócoras

o cântaro emborcava:

água na água

chuva chovendo no molhado.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

EL TOREADOR DOM PEDRO MOLINA

Fonte: Google

                        

EL TOREADOR DOM PEDRO MOLINA


Elmar Carvalho

 

Na sexta-feira, quando vínhamos para Parnaíba, demos carona a um garoto, filho da Cláudia, sobrinha da Fátima. Em viagem longa, surge sempre o ensejo de se conversar sobre os mais variados assuntos. Assim, tratou-se do caso do goleiro Bruno, da morte do filho da Cissa Guimarães e de vários outros casos da atualidade, bem como de outros fatos rumorosos mais antigos.

 

Percebi que o jovem era antenado, e esclarecia ou acrescentava algo em relação ao que estava sendo comentado. Vi que o fazia de forma respeitosa e pertinente, sem nenhuma alteração no tom de voz, de modo que se notava que não era nenhuma criança querendo exibir-se. Parava para ouvir, e quando emitia sua opinião era de forma breve, contida, porém denotando estar seguro do que dizia, mas sem afetação e arrogância, como é da índole de certas pessoas “metidas”.

 

Admirado de suas intervenções, sempre abalizadas, observei, de forma aparentemente casual, que ele parecia gostar de assistir a noticiário. Confirmou-me a suspeita, dizendo que gostava de ouvir programas noticiosos. Eu já havia percebido que ele não se referia às notícias apenas como um “papagaio decoreba”, mas como alguém que as interpretava, para emitir a sua opinião e análise, o que denotava certa maturidade.

 

Por essa razão, perguntei-lhe a idade, porquanto ele já é um tanto encorpado, como um rapazola. Respondeu-me que tinha onze anos, o que me causou mais admiração, pois, pelo conteúdo de sua conversava e pelo seu poder de argumentação, parecia ter pelo menos dezesseis anos de idade. Para tentar entender a sua inteligência, perguntei-lhe se gostava de ler. Disse que sim, sobretudo poesia, e que começara a gostar de ler a partir dos nove anos.

 

Numa época em que pouco se lê, um jovem amante da leitura sempre causa admiração, ainda mais quando consumidor de poemas. Esse gênero literário é sempre de conteúdo mais abstrato que os demais, e por essa razão tem mais afinidade com a filosofia. Por mais sugerir, que dizer diretamente, exige mais da capacidade interpretativa e criativa do leitor. Sem dúvida, uma pessoa mais experiente, mais criativa, mais culta descobrirá mais informações em um texto poético do que um ledor mediano.

 

Esse tipo de leitor, certamente, torna-se mais profundo, mais questionador e procura outras respostas e soluções, que não apenas as mais óbvias e mais rasas. Perguntei ao garoto qual era o seu passatempo predileto. Respondeu que era ler. Indaguei qual seu outro hobby; disse que era vídeo game, que, por ser um jogo eletrônico, suponho que também exija agilidade mental.

 

Dessa forma, entendi que ele gosta de exercitar o cérebro; ou seja, se dedica a fazer musculação cerebral, coisa pouco valorizada nos dias de hoje, em que impera a tirania do culto ao corpo, com pessoas musculosas, mas de pouca preocupação para com os neurônios. Indaguei-lhe o nome completo, pois o chamo de Pepeto ou Pedro Neto, embora ele não tenha esta última palavra incorporada ao seu nome, conquanto seja neto do Pedro, irmão de minha mulher, e do Pedro, pai de seu pai.

 

Disse chamar-se Pedro Molina de Freitas e Silva. O Molina foi posto por sugestão de seu avô paterno, que quis lhe dar certa elegância espanhola, em lembrança talvez de algum herói ou de algum toureiro. Dom Pedro Molina é de fato um toureador, porém toureador de palavras e ideias.

27 de julho de 2010

19 DE ABRIL - UM LEGADO CULTURAL DO BRASIL

Fonte: Google

 

19 DE ABRIL - UM LEGADO CULTURAL DO BRASIL


Valério Chaves     

Des. aposentado do TJPI

 

A cultura indígena sempre esteve presente no cotidiano dos brasileiros.

Quando comemos farinha de mandioca; quando tomamos guaraná ou mate; quando pronunciamos palavras como: tapera, arara, maracujá, jacaré ou quando fazemos bolsas trançando fios e fibras, estamos sendo influenciados pela cultura dos povos primitivos do Brasil.

Em 1943 o então presidente Getúlio Vargas assinou o decreto 5.540 instituindo o dia 19 de abril como o Dia do Índio, com base em um fato histórico acontecido no México nesta data no ano de 1940 - 1º Congresso Indigenista Interamericano, com a presença de índios da América.

A partir de então muitas manifestações culturais começaram a ser realizadas em todo o Brasil para realçar a importância do índio no cenário cultural brasileiro.

Recordo-me que em 1977, época em eu exercia a profissão de jornalista em Teresina, a Secretaria da Cultura do Piauí promoveu um concurso de poesia (sonetos) focalizando o índio como tema e premiar os autores dos três melhores sonetos.

Mesmo sem possuir dotes poéticos para tanto, resolvi participar do certame na condição de um mero "enxerido", como se diz na linguagem popular do Nordeste, com o soneto intitulado HEROI ANÕNIMO.

Para minha surpresa, fui classificado com este soneto em homenagem ao índio. Não fui o primeiro colocado, mas recebi como prêmio de consolação, além dos aplausos, uma taça cromada que guardo comigo até hoje.

 

HEROI ANÔNIMO

Quem é este bravo soldado errante

Que solene, se impõe ao brado inimigo

Escudado de arco e flecha na mão

A um tempo do mundo esquecido

Carregando na testa cabelo liso caído

Crente no Deus do Sol e do Trovão?   

 

Quem és tu Tupinambá?

Da tribo forte do Norte

Festes do branco um dia escravizado?

Amante da terra virgem

Que ainda busca no tempo a origem

De uma raça indígena do passado?

 

Quem te compreende!

Oh! viandante ordeiro,

O Sol Nascente ou o vasto horizonte?

É o teu filho-amado na terra

Onde o amor puro se encerra

Na serena imagem de tua fronte.

 

Sou o primitivo ser do Brasil

Testemunha da Cruz da descoberta

Que antes reinava em qualquer lugar,

Hoje vivendo velando humilhado

Recordando o tempo passado,

Implorando um canto pra morar!

 

(Abril/2024)

domingo, 14 de abril de 2024

RECIFE

Fonte: Google

 

RECIFE


Elmar Carvalho

 

           (Fragmento de um poema perdido,

           escrito no Recife, início de 1975.)

 

teus lampadários

multicores

ilusórios e utópicos

como os primeiros amores

cheios de mágoas

parecem peixes fosfóreos

em tuas águas:

caleidoscópicos

aquários.

 

(versão modificada)

---------------------------------------------

tuas luzes multicores

ilusórias como os primeiros amores

cheios de mágoas

parecem peixes fosfóreos

em tuas águas.

 

(fragmento original)

quinta-feira, 11 de abril de 2024

CEMITÉRIO VELHO – MUSEU E MEMORIAL


                          

 CEMITÉRIO VELHO – MUSEU E MEMORIAL


Elmar Carvalho

 

Através da internet, vi matéria da Katiucia Alves, informando que as zeladoras do cemitério velho de Campo Maior, há muitos anos desativado, se queixaram de que algumas pessoas da circunvizinhança jogam lixo no seu interior, por cima de seu muro, já penso e gretado. Na mesma reportagem, consta que a prefeitura deseja construir no local uma praça, a exemplo do que ocorreu em Piripiri, em que foi construída a Praça das Almas no local onde existira um campo santo, mas que os campomaiorenses são contra essa solução.

 

No meu entendimento, toda administração, pública ou privada, deve ser criativa, e procurar várias opções para resolução dos problemas, inclusive soluções inovadoras e até mesmo revolucionárias em certos casos. Tenho conhecimento de que, em alguns outros países, inclusive na Inglaterra, um cemitério pode ser transformado num lugar agradável, usado para passeio, como se fosse uma praça ou um parque. Na Argentina existe o famoso La Recoleta, cantado e exaltado por Jorge Luís Borges.

 

Acredito que, com um bom trabalho de arquitetura e paisagismo, o nosso antigo campo santo, tão caro aos campomaiorenses, bem poderia ser transformado numa espécie de museu e memorial a céu aberto, com a plantação de árvores, criação de jardins, passeios, alamedas, caramanchões, bancos e um espaço coberto, que poderia servir de templo ecumênico e de uma espécie de auditório, para certas palestras ou encontros. Em certos recantos seriam colocadas estátuas alegóricas da vida, da morte e da saudade, bem como placas ou lápides, que contassem um pouco da história do cemitério, de seus mortos e de nosso município.

 

Seria um museu e memorial porque esse campo santo conta muito da história de Campo Maior. Muitos moradores antigos, de velhas estirpes do município, estão ali sepultados, assim como muitos de seus filhos ilustres, nas mais diferentes áreas da atividade humana, seja intelectual, artística, política ou empresarial.

 

Esse local guarda muito da memória histórica do município, através de suas lápides. Eu mesmo, em minha adolescência, percorrendo suas alamedas, descobri o túmulo do poeta Moisés Eulálio, e lhe escrevi um necrológio, em forma de crônica, que publiquei no inesquecível jornal A Luta, nos meus bisonhos dezesseis anos de idade.

 

Alguns túmulos têm valor histórico e artístico, e falam, em seu silêncio monumental, de costumes, de artes e valores de uma outra época. Por outro lado, esse prédio faz parte da paisagem urbana, e está incrustado na memória e na saudade de pessoas de várias gerações; sua destruição empobreceria o nosso patrimônio arquitetônico. A sua conservação, com o restauro dos túmulos e criação do museu e memorial, nos moldes em que sugeri, seria uma prova de respeito aos mortos e seus familiares.

 

Por outro lado, a nossa cidade estaria sendo pioneira no Piauí, não sei se mesmo no Brasil, em adaptar um cemitério para ser um museu e memorial, bem como um logradouro agradável e propício a passeios e meditações.

 

Também serviria para que os campomaiorenses tenham um sentimento de menos temor ante a perspectiva da morte; aliás, todos passariam a ver a morte com mais naturalidade, como parte integrante e indissociável da vida. Não agrediria a religião e a religiosidade de ninguém, porquanto todas as religiões respeitam os mortos e consideram a morte como a passagem para outra vida, como um pórtico de entrada para uma outra dimensão da existência humana.

24 de julho de 2010

quarta-feira, 10 de abril de 2024

terça-feira, 9 de abril de 2024

Mimos de meu aniversário

 

Arte: Elmara Cristina
Arte: Elmar Cristina, com o auxílio luxuoso de uma AI
Elmar Carvalho e Nílson Ferreira


Hoje, dia de meu aniversário, recebi vários mimos. Várias mensagens de amigos e parentes. E os cards acima, com mensagens dos meus filhos, João Miguel e Elmara Cristina. Elmara fez a arte das duas postagens, uma das quais com o uso de Inteligência Artificial. A Fátima me deu um lindo aparelho para café, inaugurado logo após o recebimento.

O professor Nílson Ferreira me enviou um vídeo em que apareço recitando um poema de minha autoria, mas que não soube postar neste blog. Foi uma homenagem da Confraria Camões, nau por ele capitaneada.

Fui homenageado ainda com poemas dos escritores e poetas Jônathas Nunes, Walter Lima e Frederico Rebelo, que seguem abaixo:


SALVE!

 

Jônathas Nunes

 

Acordei esbaforido,

Fui correndo lá pra sala!

E esse barulho, essa fala,

De onde vem esse alarido?

É noite de preamar!

Bom dia Poeta Elmar!

Um Juiz bem aprumado

Nem sempre, diz a lenda,

É um Homem ajuizado!

E eu digo sem azedume,

Esse Elmar do NOTURNÃO,

Das Oeiras do Sertão,

É também um vagalume

De uma noite bem festeira,

Conhece tudo que é “zona”,

Dobra em tudo que é esquina,

Cumprimentando a madame,

Mas com o olho numa menina!

Esticando a baladeira

Em noite de lua cheia,

Ou mesmo na noite escura,

Bitorocara a Luís Correia,

Elmar, mas que criatura!

É o magistrado tranquilo

Sem fugir do que importa,

Mas o olho sempre naquilo!

E o leitor se imaginando

Um notívago caminhando,

Começa a se perguntar:

Estou em Coimbra do Choupal?

Na ÉVORA de Portugal?

Ou no Planetário do Elmar?


*            *            *


 0904.01


Walter Lima

 

Desde o princípio Deus deu-te

A vida dotada de beleza, deleites...

Vida, vida, anos às dezenas usufrui.

Severa Vida nem a outros tantos propicia

Tal sorte, quantos nem vingaram...

Quantas Auroras ainda te esperam?

Deixemos sem resposta esta lacuna.

Cantemos somente a Aurora deliciosa do hoje

Chegada sadia, robusta de auréolas .

 

São tuas belas qualidades:

Como Vate carrega outras tantas!

 

“Na sua alegria de Vida/Viver

De orgulhoso coração/Criação

Rodeado de amigos célebres/celebre.

Dedico estas palavras sadias a alguém

Cujo nome foi escrito no abrir/abril

Das águas –  El-Mar...

 

Ribeirão Preto, SP, 09/04/2024.

W_Lima.


*            *            *


El Mar, O Trovador 


El Mar que cruzas destemido, oh Elmar  

Nas ondas ferozes, bravio navegante, 

 Teu verso é a bússola, teu rumo o altar, 

 No El Bojador, desafias o levante. 


As velas ao vento, no bailar da maré, 

 Oh Elmar, poeta que o mar inspira, 

Tuas palavras são vagas a se erguerem, 

No eco dos poemas, tua voz suspira. 


Fredrerico A. Rebelo Torres –

Grometo da  Caravela Confraria Camões

domingo, 7 de abril de 2024

PAULICEIA

Fonte: Google

 

PAULICEIA


Elmar Carvalho

 

Do apartamento

assistia sitiado

a antipanaceia destrambelhada

da Pauliceia Desvairada

escaramuçando e rugindo

lá em cima

                 lá embaixo

para todos os lados,

pela boca fumarenta fedorenta

das chaminés e dos canos de descarga,

pela boca nojenta gosmenta dos esgotos

que escarram e vomitam no Tietê,

pela boca de morte

das sereias angustiadas que gritavam,

pela boca fedida

da namorada que brigava,

pela boca ferida

do namorado que revidava,

pelos braços apressados

que bracejavam elétricos,

pelos passos ansiosos

que esperneavam frenéticos

no dinamismo maluco

da vida fremente premente

que me assustava e angustiava

fechado e fugitivo

no apartormento.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

AS CORTINAS DE DEUS

Fonte: Google

 

AS CORTINAS DE DEUS


Elmar Carvalho

 

Recebi um e-mail que prometia explicar os mistérios do comportamento e das desigualdades da vida humana de forma lógica. A justificação, em apertadíssima síntese, é de que a miséria e o sofrimento por que passam algumas pessoas é o justo “pagamento” pelo que essas pessoas já fizeram em reencarnações ou vidas passadas, e que se não fosse assim Deus não seria justo, pois nada justificaria serem alguns mais felizes e mais ricos do que outros seres humanos.

 

Na verdade, essa teoria é uma velha conhecida minha. Muito já tenho meditado sobre ela, e creio que ela também não explica inquestionavelmente o assunto. Ora, mesmo admitindo o princípio do livre arbítrio e de que todos temos um espírito imortal, teremos que admitir que no início de tudo todos os espíritos humanos estariam em igualdade de condições, com as mesmas qualidades e nas mesmas circunstâncias, para que houvesse justiça.

 

Se assim era, qual a explicação para que alguns tenham descambado para os mais graves pecados, enquanto outros tenham podido manter as mais excelsas virtudes? Alguns desses espíritos teriam algum defeito de fabricação, algum vício redibitório, como se diz no juridiquês? Mesmo o chamado livre arbítrio não explicaria essa degradação, pois se as almas estavam em igualdade de condições, tendo, portanto, as mesmas qualidades, umas não poderiam ser mais suscetíveis aos pecados e tentações que as outras.

 

Muitos atribuem as diferenças entre nós humanos a diferentes fatores, como o ambiente, o meio físico e o meio social. Mesmo entre irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, criados nas mesmas condições, tendo as mesmas oportunidades, as diferenças, às vezes, são gritantes. Também se tenta explicar o comportamento através da psicologia, ciência por demais intrincada, que tem cometido erros escandalosos na área da medicina legal.

 

Recentemente foi feito o chamado mapeamento do DNA, e as explicações genéticas para os aspectos físicos e psicológicos surgiram com muita força, inclusive até para os casos graves de psicopatia. As discussões e explicações nessa seara são longas e controvertidas, e tão cedo ou nunca serão conclusivas e muito menos unânimes. Quanto mais se estuda, quanto mais se descobrem novas coisas, mais surgem novos mistérios. No mundo do infinitamente pequeno, das subpartículas atômicas, fala-se no princípio da incerteza.

 

Na composição do ser humano, fala-se na genética, no DNA. Qual a importância deste na formação psicológica e moral de um homem? Creio que todos esses fatores que abordei acima poderão contribuir para a formação de nosso ser físico e espiritual, mas somente Deus poderá sopesar o percentual da contribuição de cada um desses elementos. E somente Ele, avaliando as oportunidades físicas, financeiras e espirituais que tivemos, os dons que recebemos, as nossas heranças genéticas, para o bem ou para o mal, poderá nos julgar.

 

Podem existir infinitas dimensões. Cristo disse que na casa do Pai havia várias moradas. A Bíblia, no Velho Testamento, fala que Deus nos retornará segundo nossas obras. Estamos longe de conhecer todos os mistérios do Onipotente. Mas creio, como já disse em outro lugar, que Ele tem um plano perfeito, e que na continuação eterna da vida, que ninguém tem certeza como será, Ele nos há de receber a todos, puros e redimidos, sem máculas e sem pecados. Não nos angustiemos com os mistérios infinitos de Deus. Apenas os aceitemos.  

21 de julho de 2010

domingo, 31 de março de 2024

LABIRINTO TINTO DE SANGUE

Fonte: Google

 

LABIRINTO TINTO DE SANGUE


Elmar Carvalho

 

Faço um poema

com o sangue ardente

das nascentes de meus dedos:

vertentes de medos e degredos.

Os versos são fios de esperança

que saem de palpos de estranhas aranhas

construindo labirintos em arabescos

tintos de sangue nos afrescos.

Ariadne recolhe o fio

e Teseu surge intacto

com a espada embebida

do sangue do Minotauro que traz

no peito a rosa sangrenta da ferida.

Com esse fio

Penélope tece e destece

um longo manto ensopado

de pranto e quebranto

e se amortalha das dores

de amor de que padece

– amor que lhe pasta e apetece.

O que conclui desfaz peça por peça

e interminavelmente recomeça.

Abaixo, comentário de Frederico Rebelo, enviado por WhatsApp:

O poema "Labirinto Tinto de Sangue" é uma obra que mergulha nas profundezas do labirinto da existência, revelando as complexidades e os mistérios que permeiam o tecido do universo. Através de versos intrincados, o poeta tece uma teia de significados, convidando o leitor a se perder nas veredas sinuosas da sua visão poética de profunda filosofia. Cada palavra é um fio que conduz à compreensão de que a vida é um labirinto sem início e sem fim, um emaranhado de caminhos entrelaçados onde a busca pelo sentido se confunde com a própria essência da experiência humana. Uma espécie de magia, alquimia  ou hermetismo poético.

quinta-feira, 28 de março de 2024

A DÁDIVA DO LIVRO

Fonte: Google

                      

 A DÁDIVA DO LIVRO


Elmar Carvalho

 

Após encerrar umas leituras “sérias”, que vinha fazendo há algum tempo, iniciei a leitura do romance A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón. É um livro sobre livros, sobre a sedução de leituras e livrarias. Logo numa das primeiras páginas, deparo-me com estas frases:

 

“Ele amava os livros sem reservas e, embora negasse categoricamente, se alguém entrasse na livraria e se apaixonasse por um exemplar cujo preço não pudesse custear, o rebaixava até onde fosse necessário, ou inclusive o presenteava, se considerasse que o comprador era um leitor com tradição e não uma mariposa amadora”.

 

A citação me fez recordar um episódio do início de meus anos parnaibanos. Suponho que o fato aconteceu em 1977/1978, quando eu iniciava o meu curso de Administração de Empresas. Fui até uma pequena representação da extinta Fundação Nacional de Material Escolar - FENAME, ligada ao Ministério da Educação e Cultura, que publicava material didático ou paradidático, como livros e atlas. Entrei na pequena loja, situada no centro histórico e comercial de Parnaíba, e comecei a olhar atenta e vagarosamente as publicações, até que decidi comprar determinado volume.

 

Quando fui pagar, o responsável pela livraria, um homem franzino como Dom Quixote, disse que me daria o livro. Expliquei-lhe que não era apenas estudante, mas que trabalhava e poderia pagá-lo. Mas o dono do negócio insistiu em me oferecer o exemplar, perguntando: “Será se eu não posso lhe dar um livro?”.

 

Acredito que ele soubesse que eu, ainda bem jovem, fosse um poeta, universitário, que andava publicando seus textos nos jornais Folha do Litoral, Norte do Piauí e Inovação, e quis distinguir-me com um gesto que fosse sinal de seu apreço. Sem dúvida percebeu que eu “era um leitor com tradição e não uma mariposa amadora”. Esse fato teve um valor simbólico para mim muito grande, tanto que passadas várias décadas nunca o esqueci, assim como não esqueci nem a imagem nem o nome do livreiro, de quem nada mais sei.

 

Nem mesmo sei se ele amava tanto os livros como Gustavo Barceló, o livreiro de A Sombra do Vento, ao qual se refere o trecho citado, que ademais era rico e tinha a livraria apenas por paixão. Chamava-se Ulisses, como as personagens de Joyce e de Homero. Com efeito, só poderia ser mesmo uma figura extraída das páginas de uma obra de ficção.

 

Afinal, qual o comerciante que, em lugar de vender, entregaria dadivosamente o seu produto a alguém que sequer o conhecia? Ulisses, seguindo o impulso de sua bondade e de seu coração, assim o fez. E o seu gesto tão simples, mas tão cheio de significado e simbolismo, eternizou-se em minha alma. 

20 de julho de 2010

quarta-feira, 27 de março de 2024

terça-feira, 26 de março de 2024

ANDARILHO


 

ANDARILHO


Alcione Pessoa Lima


A natureza exuberante contrasta...o

O andarilho, que se arrasta...

Mede o mundo em passos...

E sobre os ombros a mochila cansada de guerra...

Seres largados; destinos indefinidos...

Ou, anunciados...filhos da terra!

O cão tatuado o acompanha...e os pensamentos.

A criatura esquecida tem desejos; talentos...

Talvez só lhe falte quem o diga: te amo! 

E segue aquela alma vazia na sua rebeldia...

Os olhos captam as chuvas; o verão dos corações sombrios...

Certo de que vencerá as tempestades, consequência de seu modo arredio.


Quando se depara com uma flor...aflora o amor contido...

E vem à tona desejos refinados...o ego se digladia...

E sob o choro que lava o corpo embotado...

Liberta-se, no silêncio de um caminho...

É apenas um ser que busca na trajetória da vida, carinho.

Pode tombar na primeira curva; pode sonhar e escancarar o sorriso;

E transformar o inferno em seu particular paraíso.

Pode seguir em frente...ou, de repente, abreviar a dor...

E na encruzilhada escolher, como via única: o amor!

Um espírito maltrapilho, sem rédeas, sem correntes, que escolheu

Somente ser um ANDARILHO.

domingo, 24 de março de 2024

VENTO NA ALMA E NOS CABELOS

Fonte: Google

 

VENTO NA ALMA E NOS CABELOS


Elmar Carvalho

 

De Parnaíba jamais esquecerei

o vento dedilhando a harpa eólia

da palma dos coqueiros

e uma música divina destilando.

Jamais esquecerei a ventagonia fiando

e desfiando os novelos de meus cabelos

encrespados em espumas e salsugens

e arrastando minha alma

  veleiro de aventureiros e corsários

        bandoleiros e libertários –

pelo largo mar onde

                           onda após onda

o sonho vai quebrar.

 

           Pba. 29.07.89

sexta-feira, 22 de março de 2024

O PIAGÜÍ – UM JORNAL CULTURALISTA

Uma das edições de O Piagüí

                      
 

O PIAGÜÍ – UM JORNAL CULTURALISTA


Elmar Carvalho

 

Recebi o jornal culturalista O Piagüí, ano III, nº 33, cujos diretores de conteúdo são Daniel Castelo Branco Ciarlini e Claucio Ciarlini Neto. Admiro sua linha editorial. Noto que é desprovida de interesses menores, alheia a ciúmes existentes em grupos, e sobretudo tenho observado que os seus diretores não são obsessivamente ciosos de suas próprias produções; ao contrário, sabem reconhecer o valor dos outros, sem importar a que gerações pertençam. Até mesmo escritores já falecidos e um tanto esquecidos têm sido lembrados em suas páginas.

 

Tenho visto o esforço desse órgão de comunicação em preservar a memória histórica do Piauí, através de matérias que sintetizam a história de vários municípios, assim como outras que tem divulgado os sítios arqueológicos e espaços culturais de nosso estado. Em suas folhas têm sido estampados contos, crônicas e poemas, além de pequenos ensaios e entrevistas.

 

O periódico tem envidado notável esforço em preservar a lembrança dos homens ilustres do Piauí e de Parnaíba, que se destacaram nos mais diferentes campos da atividade humana, seja empresarial, político, cultural, artístico ou literário. Considero os que fazem O Piagüí, tanto o jornal impresso como o portal de mesmo nome, como jovens idealistas, despojados de mesquinhas vaidades, egoísmos e egolatrias, que através da arte e da cultura buscam um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.

 

Inevitavelmente, observados a contextualização histórica, as idiossincrasias de cada componente, a grande diferença tecnológica dos dias atuais e a dos anos 70 e 80 do século passado e o regime político de então e de hoje, comparo esses moços de boa vontade aos que fizeram o jornal Inovação, pela força de vontade, abnegação e idealismo. Muitos dos componentes de ambos os jornais são ou foram literatos – contistas, cronistas, ensaístas e poetas.

 

Dentro da realidade parnaibana, é como se, simbolicamente, os “inovadores”, na corrida de revezamento da vida e das gerações, tivessem passado o fogo sagrado da cultura e do idealismo aos “piaguienses”. Para mim, com sinceridade devo confessar, a equipe do Piagüí é a mais brilhante geração surgida após o Inovação, sobretudo porque infensa a radicalismos e individualismos tacanhos e improdutivos. 

16 de julho de 2010